K7
Achei uma caixa de sapatos dia desses cujo conteúdo havia fugido à minha memória: antigas fitas K7. Lembra delas? São espécimes extintos (talvez por conta da queda de um meteoro ou por um inverno intenso, não sei ao certo). Viveram no mesmo período em que as máquinas de escrever e os bolachões de vinil dominaram a Terra. Tempos de cepacol, genius e Bamerindus. Era de Zico, Roberto Dinamite e Falcão. Ai, ai!
Pois fui fuçar as antigas fitas. Em sua maioria, eram daquelas compradas virgens, para que se gravasse o que bem entendesse por cima. Achei raridades que vão de Legião Urbana a Raul Seixas – de quando ambos ainda existiam. As capas eram produzidas a partir de recortes de revistas colados sobre a capa original. Outras fitas não eram reproduções de discos específicos, mas, sim, criações inéditas e apresentavam músicas gravadas do rádio, todas finalizadas com a vinheta da emissora.
Contudo, dentre tantas Basf, Sony e outras marcas que também já foram dessa para melhor, achei uma raridade. Uma fita K7 original. Inclusive com capa vinda de fábrica. É uma fita demo, com apenas cinco músicas. Três do lado A e duas do lado B. A capa traz (na contracapa) os números de registros das músicas e o nome dos compositores. Ela não tem “marca”; é branquinha e mostra, registrada no próprio plástico, os dados do álbum a qual se refere.
Pra melhorar ainda mais essa descoberta, a fita é um verdadeiro clássico. Podia ser que eu encontrasse um fita K7 com músicas da Xuxa, Roupa Nova, Rádio Taxi (sim, existia uma banda com esse nome), R.P.M ou, até, um exemplar de Atchim e Espirro (vai no Google), mas, não... Dei sorte, pois, desde sempre – pelo menos no que se refere à musica – minha família sempre prezou pelo bom-gosto.
A fita é um original (mesmo que K7) do AC/DC, do álbum Jailbreak. Fora comprada por, pasmem!, meu pai em 1984 (o álbum é de 1974) e resistiu ao tempo dentro daquela caixa de sapatos. Sábado, tirei-a da capa e levai-a ao meu antigo aparelho de som. Peguei um cotonete, embebi em álcool e limpei o cabeçote... quem já fez esse processo sabe do que eu estou falando. Coloquei-a na posição e, tchan-tchan-tchan!, apertei o play. E ela tocou.
Foi um som abafado, mas perfeitamente audível. A fita estava intacta. Abri o deck, tirei a fita e procurei uma caneta bic. Pra quê? Se está me fazendo esta pergunta é porque deve ter nascido na década de 90. Engatei a caneta em um dos buracos presentes na fita e, com um habilidoso giro de mão, rebobinei-a. Fiquei alguns minutos ali, ouvindo aquele som do passado e com uma vontade danada de rebobinar todas as fitas... e, assim, me rebobinar por