Receita de sucesso: como um aspargo!
*Crônica publicada no Caderno Mulher Interativa - Jornal Agora - Maio/10
Que morda a língua aquele que critica os programas de culinária! Especialmente a cozinha do fabuloso *Claude Troisgros, ou a do saboroso *Jamie Oliver que, além de muito apetecer ao paladar feminino, é um prato cheio de sabedoria!
E foi espiando a cozinha secreta do suculento Olivier que temperei minhas idéias para essa crônica! Não foi uma inspiração instantânea – até porque, nenhuma receita que se preze é feita em um minuto e um copo de água quente! As melhores receitas precisam de tempo, de descanso, de carinho e ponderação. E foi dessa forma que, juntando os ingredientes sugeridos pelo chef, preparei essa receita: à base de estalos e aspargos!
Primeiro, os aspargos: O aspargo é um dos vegetais mais nutritivos que existe, mas é também um dos mais caros nos mercados, não devido a sua qualidade e sabor peculiar, mas sim, a dificuldade de produção – uma vez plantado, é preciso esperar durante os três primeiros anos para só então colhê-los sem arriscar a planta. Esse é o tempo necessário para que suas raízes formem uma rede capaz armazenar quantidades enormes de nutrientes e energia para então originar os brotos. E mesmo passado esse primeiro desafio, sua colheita será pequena... É muito trabalho para poucos e bons resultados!
Depois, um estalo, dos bons! Daqueles que iluminam nosso pensar em momentos de escuridão, e voilà – o sucesso é um aspargo: difícil de alcançar, gostoso de saborear, um privilégio de poucos, que não vem na cesta básica da vida! Você não o ganha, nem o colhe no quintal do vizinho; ou adquire, com um custo elevado, ou planta o seu próprio pé e, com muito carinho, cuidado e paciência, espera e observa, durante anos, enquanto eles crescem em seu quintal – real ou imaginário: todo mundo tem a quantidade de terra necessária para plantar o seu sucesso!
Assim como os aspargos, o sucesso é um plano a longo prazo: pode até ser alcançado rapidamente, mas demora muito tempo para se tornar permanente! É preciso fazer sacrifícios e muitas vezes enganar a fome com outras coisas, enquanto se assiste ao crescimento daquele pé recém-plantado. Embora o maior problema não seja a fome, mas sim a gula – a busca pelo prazer momentâneo que nos torna cegos para o futuro. A fome – de sucesso ou de aspargos – pode ser aplacada, já a gula, nos aplaca!
E, assim como os aspargos, o sucesso tem um momento exato para ser colhido! Não antes, pois mesmo que o resultado pareça ideal, é ouro de tolo; nem depois, pois se o apressado come cru, o atrasado come queimado, ou nem come, pois alguém já o fez em seu lugar! Na vida, assim como na culinária, é preciso ter bom senso, boa mão e constantemente seguir a intuição – seguir a receita à risca, pode até funcionar, mas não basta! Um pouco de ousadia pode ser o tempero que faltava para fazer de um prato simples, algo especial!
Então... Cultive com dedicação e colha com paciência! E, parafraseando a sabedoria estampada no rótulo de um belo vinho chileno que tive o prazer de degustar um dia desses: compartilhe com aquele que lhe faz bem! E bon apètit!
*Nota da autora: tanto o chef britânico Jamie Oliver, como o francês Claude Troisgros, apresentam programas na GNT.