Linda teia, Dona Aranha!
Passei hoje o dia cheia de pensamentos, dúvidas. Enfim, posso bem me designar doida, porque perdi bem uns quinze minutos do meu dia vendo uma aranha no meu jardim, tecer sua teia aos raios do sol das seis horas da manhã. Linda teia, Dona Aranha (ou Seu Aranho, sabe-se lá!), elogiei eu depois que ela havia terminado sua pefeição. Nem posso descrever a beleza em movimento, a precisão, as cores nacaradas do fio infinitamente fino, apenas observei, meio maravilhada e fui conversar com dois dos meus nove gatos. Definitivamente sou mais os gatos, por que os cães já convivem tanto com os seres humanos, já adquiriu tantos hábitos perniciosos, já são tão bajuladores...os gatos compreenderam (em teoria, ao menos) que os humanos são uma rica fonte de alimento assim como de perigo. Dão-se pouco, são ariscos e desconfiados, têm seus próprios truques, não aprendem nada que não lhes interesse.
Assim, me dou melhor com os bichos de que com as gentes, visto que gente é toda uma complicação de "não me diga isso", "não me fale aquilo", "não me toque" e "se assunte", e eu não "me assunto" com muita facilidade.
Acho péssima a mania das gentes todas em se meter na vida dos outros sem realmente querer ajudar ou intervir favoravelmente, ainda que forçando a barra. Descem-se a língua bífica na vida alheia com uma facilidade espantosa, porém nunca para que o outro se toque que está fazendo errado, ou comentendo um engano. Fala-se por falar, por assim dizer.
Nos nossos dias de humanos, visto que são muitos, vizinhos de apartamento (esses cubículos medonhos, soltos no ar ligados por escadas impossíveis ou elevadores castrofóbicos) deixam-se de se ajudar (sobretudo se forem de uma classe "mais favorecida" e "educada"), pelo simples fato de não querer se envolver. Só quando a polícia chega ou o cadáver está no chão e se vê na televisão é que se diz: eu sei quem ele é. O que jamais impediu aos milicianos da "moral e bons costumes" discriminar a moça dadivosa, ou o rapazinho afescalhado, ou a moça travestida de rambo, ou o alcoolatra que espanca a mulher. Discrimine-se tudo que for diferente, inclusive os tatuados, os evangélicos, os roqueiros (a menos que tenham dinheiro para manter-se folgadamente em Miame, aí tomam a classificação de "excêntricidade artística e/ou religiosa, quando são tolerados).
Olhar para o outro e elaborar uma vasta teoria sobre sua vida, captar com o radar da fofoca o "cheirinho" de escândalo, mas nunca ajudá-lo, dar-lhe a mão, cumprimentá-lo, ver nele um outro humano, uma criatura igual.
Nos isolamos em nós mesmos, temos medo do outro e o outro, sabendo disso, assumem posturas aterradoras. Minha avó dizia: "ladrão não tem medo de polícia, se tivesse deixava de roubar"...mas, nós, mães e pais (com raras exceções) temos medo de não sermos amados por nossos filhos e permitimos tudo, ou estamos mais preocupadas em dar-lhes roupas caras que valores morais preciosos, ou temos filhos para atender a obrigação social de procriar, um traço ancestral que mantemos. E os filhos crescem, sem medo de magoar o sentimento alheio, mas capazes de, como nós mesmos, discriminar o "diferente de nós".
Sim, sim...sou doida, penso demais, observo aranhas em suas teias, converso com gatos e não entendo o gênero humano, passo o dia todo pensando e não fim não sai de minhas mãos um texto mais que indignado...
(O T-Rex acorda e ruge educadamente e me pergunta o que a aranha tem a ver com isso.
- Ahhh! Sei lá, Rex!)