MICO ESTRÊLA

Próximo ao prédio do Palmares, em Belô, onde mora o Tomás, meu neto caçula, o espoleta, existe uma área enorme cercada por arame farpado, protegendo mata arborizada cercando um morro alto, o qual tem no seu topo um espaço limpo onde se encontram sempre várias pessoas, os evangélicos, principalmente ao cair da tarde. Essas pessoas levantam os braços, na mão direita seguram uma bíblia, erguem os olhos aos céus e oram com fervor, fazendo do chamado “Morro dos Crentes” um ponto de encontro dos adeptos da sua religião, num espetáculo de fé e confiança em Deus todo poderoso.

Pois não é que dessas árvores do morro fugiu um mico-estrêla adulto, o qual entrou na garagem do prédio onde reside o Tomás? E da garagem para as escadas até dar no apartamento do lourinho sapeca foi um pulo! Logo o mico estava na cozinha, desta para a sala, os quartos, o escritório do Daniel, os banheiros, a área de serviço, enfim por todos os cantos do apartamento.

A invasão aconteceu com o dia ainda claro, por volta das dezessete horas, pegou pai, mãe, filho e babá desprevenidos em casa, de forma que o alarido foi grande! O Tomás, segundo meu filho Daniel, ficou bem ouriçado e queria pegar o símio a qualquer custo. Era como se o bichinho tivesse saltado das páginas dos seus livros infantis, materializado, para dentro do seu próprio lar!

A custo foi convencido pelo pai que o animal era silvestre, acostumado com a liberdade na mata e era para lá que ele voltaria, logo que pudesse sair do prédio. Tentaram, pois, conduzi-lo pra fora até as escadas e dessas pra garagem, donde ele na certa tomaria o caminho de volta para o “Morro dos Crentes”, antes que escurecesse, sendo no final bem sucedidos na operação.

Mas no Tomás ficou gravada para sempre em sua cabecinha, de forma indelével, as cenas da invasão do macaquinho, as estripulias praticadas pelo mesmo dentro da sua própria casa, testemunhadas pelos pais e a serviçal, a fuga desordenada do prédio, em busca do seu “habitat” natural no “Morro dos Crentes” e a sua carinha traquinas, com aqueles olhinhos brilhantes, os dentinhos brancos, afiados e o rabo listrado.

Ao nos encontrarmos no dia seguinte, sábado, ele foi logo dizendo ao adentrar o nosso apartamento:-

“- Oi, vô, o mico-estrêla invadiu a minha casa, sabia??? ... Você pode “botar” uma crônica nele, vovô? Você pode?! ...” - Mas é claro que posso, Tomás. Um pedido seu é uma ordem, meu neto querido! “Botei”, pronto ! ...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 24/05/10

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 24/05/2010
Reeditado em 24/05/2010
Código do texto: T2276910
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