Ciúme, a voz a nos arrastar pra solidão.
Ciúme é o olho cego a guiar nossos caminhos. É a intriga estabelecida em nosso ser. É nossos medos a lembrar coisas antigas. É nossos temores antecipando o que virá. E, assim, instalado o porta-voz da traição, fica-se aguardando juntar-se a ele a oportunidade e a ocasião. E daí em diante já não somos nós. Somos o outro. Vivemos o outro. Sentimos pelo outro. Pensamos pelo outro. Enredamos por caminhos onde há um inimigo em cada arbusto. E as vozes intrínsecas e obscuras que permeiam nossa alma aos poucos injetam o veneno da insegurança e da dúvida. E, então, a vida torna-se um lugar mal assombrado. Assombra a tristeza de não se conhecer. Assombra a fragilidade do amor próprio. Assombra o desatino da posse confundida com amor. Mergulha-se em temores insondáveis. E já não há razão. Somente um embolar de emoções confusas e incoerentes. Não há mais amor. Há só um olhar para a mágoa e a aflição. Perdeu-se o ser em seus meandros indizíveis. O pranto suplantou a voz. E agora só se sente e só se vive com os sentimentos do ciúme. Como o barco que se desprende das amarras do cais do porto e fica à deriva sem timoneiro, o ciúme é barco à deriva quando navega as emoções. Mantêm-se sobre as águas do amor ao sabor das ondas da vicissitude, dos sentimentos opacos. Não há lua sobre o mar onde navega o ciúme. Há somente o breu e o temor infinito do pressentimento da verdade. Consome-se em olhar os negros vales, onde habitam a incerteza e o ceticismo. Agoniza a vida. Envenena-se a pouco e pouco. Vingam a angústia e o mau presságio. Nas noites longas onde a intriga macera a alma, os ventos frios da perfídia arrefecem o coração. Chora o ciúme sem saber a quem pranteia. Desvela a noite seu gotejar de desconfiança. Volteiam sombras, simulacros da verdade. Carpem a vaga de sentimentos conturbados. As dores da noite são o fel com que lhe dão a conhecer as aparências. E é no silêncio que a noite impõe ao ciúme que viceja o rutilar dos melindres que andam ao redor da alma, sussurrando à alma os detalhes desta ilusão. Alimenta-se de palavras soltas, de gestos sem conseqüências. O nada que o rodeia é a explicação para tudo que fareja. Fia-se na sua razão embotada por sentimentos de inferioridade e auto-comiseração. O ciúme, assim, se aninha tal cobra a dar o bote. Serpente sinuosa arrastando-se por entre as fraquezas de um espírito combalido pela hesitação. Avilta o amor e o mescla à indolência da qual, ele, ciúme, se constitui. Lamenta a sorte e o destino que o trouxe até ali. Maldiz o amor que lhe serve de alimento. Tranca com a vida o pacto do desespero. Esquece-se entre as lamúrias e as angústias que o permeiam. Embota a visão, já lhe são negros os caminhos. Resta ao ciúme remoer os seus tormentos. Dar guarida aos fantasmas que plasmou. Cumprir a pena na prisão que ele criou. O ciúme é, em última instância, a voz particular e íntima do abandono a querer nos arrastar pra solidão.
Ciúme é o olho cego a guiar nossos caminhos. É a intriga estabelecida em nosso ser. É nossos medos a lembrar coisas antigas. É nossos temores antecipando o que virá. E, assim, instalado o porta-voz da traição, fica-se aguardando juntar-se a ele a oportunidade e a ocasião. E daí em diante já não somos nós. Somos o outro. Vivemos o outro. Sentimos pelo outro. Pensamos pelo outro. Enredamos por caminhos onde há um inimigo em cada arbusto. E as vozes intrínsecas e obscuras que permeiam nossa alma aos poucos injetam o veneno da insegurança e da dúvida. E, então, a vida torna-se um lugar mal assombrado. Assombra a tristeza de não se conhecer. Assombra a fragilidade do amor próprio. Assombra o desatino da posse confundida com amor. Mergulha-se em temores insondáveis. E já não há razão. Somente um embolar de emoções confusas e incoerentes. Não há mais amor. Há só um olhar para a mágoa e a aflição. Perdeu-se o ser em seus meandros indizíveis. O pranto suplantou a voz. E agora só se sente e só se vive com os sentimentos do ciúme. Como o barco que se desprende das amarras do cais do porto e fica à deriva sem timoneiro, o ciúme é barco à deriva quando navega as emoções. Mantêm-se sobre as águas do amor ao sabor das ondas da vicissitude, dos sentimentos opacos. Não há lua sobre o mar onde navega o ciúme. Há somente o breu e o temor infinito do pressentimento da verdade. Consome-se em olhar os negros vales, onde habitam a incerteza e o ceticismo. Agoniza a vida. Envenena-se a pouco e pouco. Vingam a angústia e o mau presságio. Nas noites longas onde a intriga macera a alma, os ventos frios da perfídia arrefecem o coração. Chora o ciúme sem saber a quem pranteia. Desvela a noite seu gotejar de desconfiança. Volteiam sombras, simulacros da verdade. Carpem a vaga de sentimentos conturbados. As dores da noite são o fel com que lhe dão a conhecer as aparências. E é no silêncio que a noite impõe ao ciúme que viceja o rutilar dos melindres que andam ao redor da alma, sussurrando à alma os detalhes desta ilusão. Alimenta-se de palavras soltas, de gestos sem conseqüências. O nada que o rodeia é a explicação para tudo que fareja. Fia-se na sua razão embotada por sentimentos de inferioridade e auto-comiseração. O ciúme, assim, se aninha tal cobra a dar o bote. Serpente sinuosa arrastando-se por entre as fraquezas de um espírito combalido pela hesitação. Avilta o amor e o mescla à indolência da qual, ele, ciúme, se constitui. Lamenta a sorte e o destino que o trouxe até ali. Maldiz o amor que lhe serve de alimento. Tranca com a vida o pacto do desespero. Esquece-se entre as lamúrias e as angústias que o permeiam. Embota a visão, já lhe são negros os caminhos. Resta ao ciúme remoer os seus tormentos. Dar guarida aos fantasmas que plasmou. Cumprir a pena na prisão que ele criou. O ciúme é, em última instância, a voz particular e íntima do abandono a querer nos arrastar pra solidão.