Uma Questão de Gosto
Eu era um adolescente querendo entender um pouco da vida quando ouvi minha mãe, num de seus momentos filosóficos, perguntar:
– “O que seria do amarelo se todos gostassem do azul?”
Acho que foi a primeira vez que me dei conta de que os seres humanos têm preferências e, na maioria das vezes, essas preferências são conflitantes. Há um ditado que nos alerta para não discutirmos gosto. Apesar da nobre tentativa de contemporizar, de colocar panos quentes, de condescender, sabemos que, na prática, o ditado não funciona, pois adoramos emitir opinião sobre o gosto alheio.
A polêmica está incrustada na natureza humana, me arrisco a dizer que ela é um dos molhos da vida. Nelson Rodrigues disse que toda unanimidade é burra. Concordo que seria tudo muito chato se todas as opiniões coincidissem. Imagine se todos torcessem pelo mesmo time? Que graça haveria nisso? Se todos tivessem os mesmos gostos, se não houvesse pluralidade, se os olhares fossem exatamente iguais, certamente perderíamos muito da riqueza da alma do homem.
As divergências devem contribuir para o nosso crescimento. Somos enriquecidos quando nos permitimos às percepções novas, provenientes daqueles que não concordam conosco. Entretanto, quando os gostos e predileções endurecem a nossa alma, tornando-se absolutos, quando nos fechamos, ou pior, quando nos afastamos devido às diferenças, quando nos tornamos menos tolerantes, quando só aceitamos os iguais, quando elegemos o que gostamos como único e definitivo, quando usamos as nossas preferências para atacar e menosprezar o gosto dos diferentes, certamente nos tornamos menos sábios.