Lopão e Lopinho - Parte III
Minha terra, nossa gente e sua história.
Lopão e Lopinho
Parte III
Lopão foi protagonista de muitas histórias contadas por aqueles que tiveram o privilégio de conviver com ele. Seguem-se algumas delas.
Na Praça da Matriz existe um pirulito. Nas solenes procissões Lopão em alta voz, recomendava aos fieis que lotavam a praça: “Homens do pirulito para fora, e mulheres do pirulito para dentro” era sua forma de separar os homens das mulheres.
Era eloqüente no sermão do encontro. - “Vem Maria, vem ver o que fizeram de seu filho!”
Em certa sexta-feira da paixão o povo aguardava o descedimento da cruz. A multidão acotovelava-se no adro da Matriz em silêncio, na expectativa que a cortina roxa que ocultava o calvário descesse para mostrar a cena de crucificação. A Banda Santa Cecília estava perfilada na subida da Avenida Martins da Costa que dá acesso ao bairro Pará. Assim que o pano roxo desceu, o grito de Lopão ecoou por toda praça: - “Morreu!” Neste momento o meu tio Sudário que era o pratista da Banda Santa Cecília, assustou-se com o grito inesperado do Padre e deixou que o prato caísse de suas mãos sob o calçamento de pedras de minério de ferro. O barulho foi ensurdecedor, foi motivo de susto e riso.
Lopão gritava com eloqüência: - “Monstruosidades! Vejam o que fizeram com o filho do Deus Altíssimo! Mataram... Mataram... Que covardia! Assassinaram um inocente!”
Após o descedimento da cruz, saiamos comovidos, em silêncio, percorrendo as ruas escuras e mal iluminadas do centro da cidade, ouvindo o barulho da matraca intercalado com o lamento do cântico da Verônica, os acordes tristes dos dobrados fúnebres da Banda Santa Cecília e Euterpe e o coral composto pelas esposas, mães, tias, filhas e primas dos músicos.
Os cânticos eram em latim, aquilo nos assombrava. Quanta recordação!
Na festa de São José Operário, realizada na igrejinha do Campestre, insistia em dizer durante o sermão: - “José! Esposo casticismo de Maria dava ordens e Jesus o obedecia!” Aquilo me deixava encucado!
Apelidou o Bairro Campestre de “Arraial do pau fincado” devido à ornamentação das ruas pelos moradores no dia da procissão de São José Operário. Colocou o nome de Padre Olimpio em nosso Grupo de Escoteiros. Era o nosso capelão. Deu o nome à Vila Sagrado Coração de Jesus o Bairro que antes chamava Explosivo. Muitos da época atribuíram tal mudança de nome por motivo de brigas e confusões constante naquele bairro, diziam que o nome Explosivo era maldição.
Nas encomendações aos defuntos que fazia na Matriz do Rosário, não ousava encarar o rosto do distinto morto. Dizem que agia desta maneira, devido um susto que passou durante certo ritual de encomendação.
Lopão era um querido amigo. Todas as vezes que eu o encontrava, pedia-lhe a benção – “Bença Padre!” E ele me abençoava com carinho. Em seguida ele dizia para mim, “louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo” eu respondia rapidamente, “para sempre seja louvado”. Conhecia todos os paroquianos, e os chamava pelo nome de batismo. Monsenhor José Lopes dos Santos, “Homem da Mina”. Figura marcante na história da minha velha Itabira.