Sujeito Indefinido
Aos cinco anos, diante do balcão da padaria que expunha balas, doces e chocolates, experimentou pela primeira vez o desconforto da dúvida. Olhava atentamente as guloseimas, mas diante da variedade, não sabia qual escolher. Na verdade queria todos os produtos ali expostos, mas seu pai já decretara que compraria somente um, e ele, obrigatoriamente, teria que eleger um deles.
Na adolescência, suas inseguranças se consolidaram, todas as vezes que uma decisão lhe era requisitada, tremia por não saber qual o melhor caminho, qual a alternativa mais conveniente. Em todo o tempo, sua mente flutuava entre duas partes contraditórias sem se inclinar a uma mais do que a outra. Esperava sempre que alguém lhe dissesse o que fazer – uma alma caridosa que assumisse por ele a responsabilidade de uma escolha. Quando não encontrava quem estivesse disposto a patrocinar-lhe a decisão, simplesmente se omitia.
Assim cresceu, homem se fez, todavia sem nunca ter assumido de fato as responsabilidades que demandam da condição de ser homem. Consumido pela dúvida, se entregou à força do vento da vida, deixando-se levar na direção que soprasse. Não quis planejar, não quis escolher, deixou que as coisas acontecessem. Foi assim que se tornou universitário sem ter prazer nos estudos, foi assim que se tornou um infeliz funcionário público, foi assim que se casou, foi assim que se divorciou, foi assim que se tornou o que não queria ser, não porque não tivesse escolha, mas porque não teve coragem para escolher.