Bar e igreja, paraíso e inferno

Bar e igreja, paraíso e inferno

O pecado mora ao lado, mas a salvação está próxima. Sendo assim, Deus e o diabo brigam pelo mesmo território, tentando arrebanhar as mesmas almas. No inferno, ou melhor, no bar, ouvem-se gritos de: - A saideira. Enquanto no céu, ou melhor, na igreja, gritam os fiéis: - Aleluia, aleluia. O garçom traz mais uma cerveja, limpa a mesa, tira-gosto, serve os clientes. Do outro lado o padre ou pastor serve a hóstia, perdoa os erros, mostra o caminho e pede o dízimo.

Se repararmos bem, o prazer e a salvação têm um preço. A conta do boteco pode ser o dízimo da salvação. Quem tem mais pra dar, pode se divertir ou ser salvo mais rápido. O importante, nessa disputa, é que há um respeito mútuo; vizinhos por toda parte, o céu e o inferno dividem espaço pelas ruas. O bom nessa história é que podemos pecar e ser perdoado no mesmo quarteirão. Sabendo usar a carne e o espírito, podemos viver pulando de lado todo o tempo, sem medo da condenação ou da salvação.

Sem brigas, fiéis e clientes, se divertem, cantam hinos e arrochas num mesmo tom, mostrando que o bem e o mal também são afinados. Ninguém atira pedras ou penas nas almas que passeiam, ou melhor, nas que vagam por ruas saturadas de bares e igrejas. Nesse mundo parece só haver anjos e demônios; meio termo não existe. Vinho ou cachaça, o que vale são as atitudes de cada um. Bêbado ou ajoelhado, todos têm seus traumas e precisam de algum alento para aliviar o corpo ou a alma.

Procurando não desviar do caminho eu tento não pecar, mas pecando sempre. É a briga do meu eu comigo mesmo. Está tudo ofertado e não tem como fugir desses crediários, há até fiado e salvação a prazo. Mas, lendo um antigo compositor baiano, eu descobri que, se não há pecado, não há perdão. Por isso, eu vou beber, cair e levantar e rezar do lado para me salvar; a salvação é uma ressaca. Aleluia, irmão e aproveita e desce mais uma. Fecha a conta e os dez por cento dá para igreja. Fuiiiiiiiiii, ou melhor, amémmmmm! Saravá, evoé, Goodbye, tchau.

Mário Paternostro