"COPÉRNICO, O FILÓSOFO DO CÉU"

“COPÉRNICO, O FILÓSOFO DO CÉU”

Sob esse título li num jornal, nesta manhã catarinense, enquanto sorvia o líquido “doce amargo” da cuia, um artigo do nosso ex-governador Luiz Henrique da Silveira, como assíduo e culto colunista dos jornais catarinenses que é. Diriam os direitistas: “Mas ele não é teu inimigo político”? Eu simplesmente respondo a essa falta de tato que a cultura é essência e, para não adulterá-la, não há de se misturar picuinhas a ela, incorrendo nos mesmos erros do passado. Mas, continuando o assunto “Copérnico”, peço vênia ao nobre colunista para transcrever “ipsis líteris” o texto para torná-lo acessível aos milhares de aficionados das boas leituras espalhados pelo mundo das letras.

“Neste sábado, 22 de maio, registra-se a passagem dos l25 anos da morte do escritor e poeta francês Victor Marie Hugo, em 1885. Da pletora de frases e ensinamentos deixada por ele, destaco três que servem de introdução ao personagem que pretendo destrinchar: “Os mortos são invisíveis, não ausentes”; “Tudo o que está morto como fato, continua vivo como ensino”; “As revoluções como os vulcões, têm os seus dias de chamas e os seus anos de fumaça”.

Nesta segunda-feira, 24 de maio, registra-se a passagem dos 467 anos da morte do astrônomo e matemático polonês, Nicolau Copérnico, que ocorreu em 1843.

A revolução representada pela sua teoria heliocêntrica, é o que faz dele um daqueles seres invisíveis, mas presentes, onipresentes até. Afinal, sua obra foi o alicerce no qual se apoiaram outros grandes pensadores da humanidade, como Gallileu, Kepler, Newton e Einstein.

O sistema heliocêntrico era uma ideia fantástica para uma época em que papas, imperadores e (por influência destes) o povo em geral tinham como verdade incontestável que a terra estava absolutamente parada no centro do Universo e todos os corpos celestes desfilavam ao nosso redor.

Com base em suas observações, a olho nu (a luneta astronômica só seria inventada um século mais tarde), ele concluiu sua grande obra: – “De Revolucionibus Orbium Caelestium” (Sobre as Revoluções das Esferas Celestes), em 1530, afirmando que “a terra gira em torno do seu próprio eixo uma vez por dia e viaja ao redor do sol uma vez por ano”.

O orgulho humano e aquele dogma da Igreja sofreram um duro golpe com a revelação feita por Copérnico. Afinal, se Deus havia criado a Terra e o Homem para povoá-la, sendo a criatura imagem do Criador, o Universo existia apenas para que o contemplássemos. O filho de Deus estava no centro do cosmos e era o centro de todas as coisas.

Daí porque, no processo de condenação de Galileu, em 1616, a Igreja colocou a obra de Copérnico na lista dos escritos proibidos, condição em que permaneceu até 1835, ainda que tendo sido reconhecida como verdadeira 150 anos antes.

Confirmando o que dizia Victor Hugo, a revolução desencadeada por Copérnico não parou mais de produzir seus efeitos, abrindo a mente humana para um universo infinito. Tão grande foi a amplitude dessa abertura que o próprio papa João Paulo II finalmente a reconheceu: “A fé terá que saber harmonizar-se com a razão”, mensagem proferida em Turon, a cidade polaca onde Copérnico nasceu.

Sua obra revolucionária só foi publicada 30 anos depois de concluída. Conta a história que ele faleceu uma hora depois de por as mãos no primeiro exemplar do seu livro, em 24 de maio de 1543, nunca tendo tomado conhecimento da controvérsia que havia ajudado a criar, demolindo uma arquitetura astronômica que perdurara por 17 séculos.

Os 36 anos que se passaram até que fosse publicada a sua tese têm relação com o receio da censura e da violência exercidas pelos militantes da ignorância, sempre prontos a supliciar e incinerar cientistas.

Copérnico comparava a ciência à “água pura que, derramada no chão onde imperam os brutos, vira lama”.”

Ainda nos dias de hoje, em pleno século XXI muitas verdades e experiências comprovadas pelas ciências, são abominadas em nome das religiões. Para mim a publicação deste texto foi oportuna e prazerosa. Muitas verdades adormecidas no leito do comodismo do intelecto, por não contestar as observações que lhe ditam a razão; por não se dar conta que muitos engodos acontecem por culpa da lentidão do discernimento de algumas verdades, pousam em brancas nuvens. E essa falta de sede do espírito de conhecer a verdade sobre aquilo que crê, levam o ser humano a engolir os alimentos da alma, previamente mastigados e, intencionalmente, temperados pelos ensinamentos dogmáticos, pelos que têm interesses na fé incondicional e não a fé científica, obtida com o uso dessa razão.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 22/05/2010
Código do texto: T2272725
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