Eu posso te ajudar?

Seja bem-vindo, visitante anônimo, que nas noites solitárias, a bordo de sua nave, trilha caminhos aleatórios em busca de um porto seguro.

Assim como a noite veio, ela também se irá e então testemunharás o nascer do dia, pois à noite o Sol escurece até a meia-noite e a partir daí, começa um novo dia.

Se assim fizeres, sentirás brotar de dentro de ti uma força que desconhecias e te sentirás renovado na esperança e a vida entrando em ti. Se assim fizeres, entenderás com o coração que a semente morre antes de germinar e que a morte antecede a vida.

Eu sei da luta que tens travado à procura de paz. Sei também das tuas dificuldades para alcançá-la.

Sei das tuas quedas, dos teus propósitos não cumpridos, das tuas vacilações e dos teus desânimos.

Eu te compreendo... Imagino o quanto tens tentado para resolver as tuas preocupações profissionais, familiares, afetivas, financeiras e sociais.

Imagino que o mundo, de vez em quando, parece-te um grande peso que te sentes obrigado a carregar. E tantas vezes, sem medir esforços.

Eu conheço as tuas dúvidas da natureza humana. E àquela inquietação atroz em não saberes se amanhã as pessoas que hoje te rodeiam, ainda estarão contigo?

Eu sei o quanto te dói os teus limites humanos e quanto, às vezes, te parece difícil uma harmonia íntima.

E não poucas vezes, a descrença toma conta do teu coração. Compreendo até as saudades e lembranças, saudades daqueles que se afastaram de ti, saudades dos seus tempos felizes, saudades daquilo que não volta nunca mais...

E os teus medos? Medo de perderes o que possuis medo de não seres bom para aqueles que te cercam medo de não agradares devidamente às pessoas, medo de não dares conta, medo de que descubram o teu intimo, medo de que alguém descubra as tuas verdades e as tuas mentiras...

Eu sei que, por causa de tudo isso, às vezes te encontra num profundo sentimento de solidão. Sei até das tuas sensações de estares acorrentado, preso; preso às normas, aos padrões estabelecidos.

Às rotineiras obrigações: “Eu gostaria de... mas eu tenho que trabalhar, tenho que ajudar, tenho que cuidar de... tenho que resolver, tenho que...”

E quantas vezes tens renunciado, de quantos anseios tens aberto mão! Pouca coisa tens feito por ti e tua vida, quase toda ela, tem sido afinal, dedicada a satisfazer outras pessoas. E sei que isso é somente de tuas decepções.

Sei que, nas tuas horas mais amargas, até a revolta aflora em teu coração. Revolta com a injustiça do mundo, revolta com a fome, as guerras, a competição entre os homens, com a loucura dos que detêm o poder, com a falsidade de muitos, com a repressão social e a desonestidade.

Por tudo isso, carregas um grau excessivo de tensões, de angústia e de ansiedade. Sonhas com uma vida melhor e significativa. E tu percebes estas tensões nas tuas insônias, ou no sono excessivo.

O fato que carrega tensões sobre tensões: tensões no trabalho, nas exigências e autoritarismo de alguns, nas condições inadequadas de salário e na inexistência de motivação, nos ambientes tóxicos das empresas, na inveja dos colegas, no que dizem por trás.

Tensões familiares, nas dependências devoradoras dos que habitam a mesma casa. Nos conflitos e brigas constantes, onde todos querem ter razão. No desrespeito à tua individualidade, no controle e cobrança das tuas ações.

“A vida te foi dada e existem em ti remédios para todos os teus males”. Se quereres ter razão em tudo o que pensas. Se quiser obter piedade pelo que sentes, se queres a aprovação integral em tudo o que fazes.

Se escolherdes abrir mão da tua própria vida, em nome do falso amor, para comprares o reconhecimento dos outros, através das renúncias e sacrifícios, nada posso te oferecer. Se entenderes mal a regra máxima “Amar ao Próximo como a ti mesmo”, esquecendo-te de amar a ti mesmo, em nada posso te ajudar.

Se não tens um mínimo de coragem para estar com teus próprios sentimentos, sejam agradáveis ou dolorosos. Se não tens um mínimo de humildade para te perdoares pelas tuas imperfeições. Se desejares impressionar os outros e angariar a simpatia para teus sofrimentos.

Se não sabes pedir ajuda e aprender com os que sabem mais que você. Se preferires sonhar ao invés de viver, ignorando que a vida é feita de altos e baixos, nada posso te oferecer. Se pensares que é possível controlar o que os outros pensam de ti, o que os outros pensam a teu respeito, o que ou outros fazem.

Se quiser acreditar que existe segurança dentro de ti, repito: Eu te compreendo, mas, em nome do verdadeiro amor, jamais poderia apoiar-te!

Se desejares usar teus belos planos de mudar, de crescer, de realizar, como instrumento de auto-tortura; se achares que é amor o apego que cultiva pelos teus pertences e amigos; se quiser ignorar, em nome da seriedade e da responsabilidade, a criança brincalhona que habita em ti, se alimentas a vergonha de te enternecer diante de uma flor ou de um pôr do sol; se através da lamentação recusas a vida como dádiva e como graça, não posso te apoiar.

Tens presente agora as tuas emoções? Tens presente agora o fluxo da tua respiração? Tens agora a consciência do teu próprio corpo? Este é o passo primordial. Teu corpo é concreto, real, presente, e é nele que o sofrimento deságua e é a partir dele que se inicia a caminhada para a alegria. Somente através dele se encaminha o retorno à paz.

Jamais resolverás os teus problemas somente pensando neles. “Através da consciência corporal, galgarás caminhos jamais vistos, entrarás em contato com os teus sentimentos, perceberás o mundo tal como é e agirás de acordo com a naturalidade da vida”.Assume o teu corpo e os teus sentimentos, por mais dolorosos que sejam; assume e observa-os. Para que fingir estar alegre se estás triste?

Para que fingir coragem se estás com medo? Para que fingir amor se estás com ódio? Para que fingir paz se estás angustiado? Não lute contra seus sentimentos. Torna-te presente, por mais que te doa. Se assim fizeres, algo de muito belo acontecerá!

Naioton
Enviado por Naioton em 22/05/2010
Reeditado em 23/05/2010
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