Encantamento e ilusão
Desde quando o homem disputou o primeiro masso de coisa neste mundo, começou a prósperar a desigualdade, a corrupção, a prosperidade e a esperteza, não propriamente nessa ordem. Daí para cá, danou-se a criar desordem, caos e dedicou-se muito pouco a pôr ordem na casa. Assim mesmo, ordem carregada de caos, que é para ter de se virar na criação de paliativos, subterfúgios e soluções repletas de boas intenções. Mas como de boas intenções o mundo anda cheio, logo logo as soluções se desmantelam, por inconsistentes que são, e os furos aparecem e desaparecem com outras soluções de circunstâncias e que por isso mesmo eivadas de imperfeitas ações humanas.

Não obstante, o homem sobrevive, nem que para isso e por isso tenha de se matar aos poucos, se alegrar com os fatos, criar e recriar caminhos, se embevecer com horizontes lindos e se entristecer e perecer com a perda de horizontes. Nessa toada, ele criou o estado e seus sistemas políticos, criou o dinheiro e suas distorções de ganância, poder e corrupção, tentou desfazer-se do Estado e criar a pretensa e tão sonhada igualdade entre os homens, dando um chute na competição e na individualidade.

É esdrúxulo, prosaico e interessante ver o homem criando e recriando, desfazendo e desconstruindo, montando e desmontando para continuar produzindo e sobrevivendo. Existe absurdo mais interessante do que a tal da bomba atômica? O homem se esmerou em estudos científicos e tecnológicos para criar a bomba, que é justamente para destruir o mundo que ele tenta construir. Haja filosofia para explicar isso! Mas acho também que nem a poesia explica.

Volta e meia essa questões me intrigam. Vieram-me à tona quando da débacle financeira de 2008, nos Estados Unidos, por causa de um calote do setor financeiro habitacional. E agora de novo, pegando em cheio um país como a Grécia, cheio de história e insuperáveis exemplos de filosofia e política para nosso mundo ocidental. O capitalismo liberal democrata alimenta e mata, constrói e corrói, cria e busca subterfúgios e saídas as mais estapafúrdias e miraculosas, tampando um buraco aqui e fazendo água ali.

E a desigualdade, que era medida de pessoa a pessoa, passa agora para os países. Da mesma forma, a miséria que grassa na África foi criação do homem, quando buscou dominar e explorar. Justamente para fazer riqueza. As tentativas comunistas/socialistas, que pregavam na teoria um mundo mais igual e menos perdulário, se perderam em corrupção, privilégios, imposições e cerceamento das liberdades, dentre outras ações deletérias. O mundo capitalista e democrático se perde também em corrupção, mazelas mil e exploração, sempre mais acirrando as desigualdades, as diferenças e a miséria. Ao mesmo tempo, nunca se progrediu tanto em ciência e tecnologia. Com um pequeno e decisivo detalhe: quem detém esses conhecimentos é que manda, tem poder, faz dinheiro.

De onde viemos e aonde vamos parar? Ninguém sabe. Vamos, sim, continuar construindo essa coisa torta, para nosso encantamento, ilusão, desenvolvimento e sofrimento.

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colaboração: Hélverton Baiano, o jornalista de Correntina - BA.
Flamarion Costa
Enviado por Flamarion Costa em 21/05/2010
Reeditado em 05/04/2013
Código do texto: T2271680
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