Muito além do Bazar
Ao longo da vida – e quanto mais longa é a vida – vamos juntando uma coleção de presentes, seja de aniversário ou Natal, Dia das Mães ou aniversário de casamento.
Além dessas datas especiais, a Heloísa ainda era presenteada por conta das comemorações alheias, como o foi na festa de aniversário dos 70 anos do marido. Muito gentil, uma colega de Caetano de Campos levou a lembrança do aniversariante e, de quebra, um agrado para a dona da casa. Até bem própria para a casa, pois era uma jarra de acrílico incolor, retangular, tão “clean” quanto se usava na época, e própria para acomodar o saquinho do leite. Afinal de contas, era muito chato você arrumar a mesa para o lanche, pôr a louça com desenho inglês, toalha estampada, e ter que servir o leite naquele suporte plástico amarelo, horroroso.
Pena que, simultaneamente ao aniversário, as empresas fabricantes de leite adotaram a embalagem de papelão e a jarra perdeu toda a sua utilidade. Pelo menos para a Heloisa que, apesar de gostar da peça, acabou reservando pra ela um lugarzinho bem no fundo do armário, de onde ela só era tirada nas arrumações anuais.
Até que num daqueles “Feng Shuis” da vida, naquela proposta de Ano Novo que a gente faz de acabar com tudo que não esteja sendo usado, ela tomou a firme decisão de doar a jarra para o Bazar da igreja. Afinal, uma prenda absolutamente nova, sem uso mesmo, era pra lá que devia ir.
No dia do bazar, bem que ela ficou o tempo todo controlando com o rabo do olho pra ver se alguém comprava sua doação. Mas foi num segundo de distração que a jarra sumiu, enquanto ela tomava um cafezinho na lanchonete.
Aliás, a atuação da Heloisa na sua comunidade religiosa ia muito além da doação de prendas: era dizimista, distribuidora de boletins nos cultos e diaconisa eleita por mais de 40 anos.
E foi exatamente na festa de fim de ano da Mesa Diaconal que ela reencontrou sua jarra de acrílico, embrulhada para presente e entregue a ela pessoalmente pela sua amiga secreta!