DE PÁSSAROS E OUTROS BICHOS

Muito embora minha casa não tenha palmeiras

onde cante o sabiá, os pássaros estão sempre presentes esvoaçando em torno das árvores e das flores buscando o mel que contém.

Por demais conhecidos pela sua sem cerimônia e destemor, não faltam bem-te-vís gritando aos quatro ventos o que viram e o que deixaram de ver. São barulhentos demais para meu gosto, mas não posso ignorar a beleza de sua plumagem. O pé de sapotí era um chamariz para os sanhaços: beliscavam todos os frutos, nunca encontrávamos um inteiro. Apesar do sapotizeiro ter sido cortado eles não deixam de aparecer, trazidos, talvez, pela força do hábito. Não sei o que os bicos-de-lacre acham de interessante no meu quintal, vêm e vão, ligeiros numa revoada de asas. Rolinhas, cambaxirras e lavadeiras comparecem diariamente e o pequeno beija-flor, vez por outra, deixa ver seu colorido entre os hibiscos.

Além dos passarinhos que nos visitam houve tempo em que existia um grande viveiro cheio de periquitos australianos, canários da terra, coleiros, galos de campina e outras espécies de que já esqueci os nomes. Tinha, até, uma roda "mirim" para eles se divertirem. O viveiro foi desfeito quando avisei que não mais estava disposta a cuidar dele.

Meus filhos cresceram tendo contato com vários bichinhos: coelhos que escavavam túneis enfiando-se pela terra a dentro para terem seus filhotes; um casal de gansos grasnadores; alguns marrecos que até recebiam amigos para tomar banho em sua piscina, os inevitáveis peixinhos de aquário e, como não poderia deixar de ser, gatos e cachorros. A título de ilustração para quem desconhece os filhotes de coelhos chamam-se láparos e os de peixe alevinos.

Assim é que as lembranças afloram trazendo uma certa nostalgia por tudo que ficou para trás. Já ouvi dizer que ninguém vive de lembranças, mas elas fazem parte de nós e nos enriquecem a vida - pobre daquele que não as possui.

Possa esse lugar em que vou morar proporcionar-me momentos alegre e proveitosos, preenchendo de maneira prazerosa os meus espaços vazios.

fev-2006

(No dia 17 de março deste ano mudei-me

dessa casa onde morei por 33 anos)