“A FORÇA DE DEUS”

Certa vez, há cinco anos atrás, vi um homem sentado em um banco de praça. Era um cidadão de boa aparência, com mais ou menos 40 anos, boas roupas, apesar de sujas, enfim, uma pessoa que me pareceu ser confiável. Sentei ao seu lado e como estava com o jornal nas mãos, perguntei-lhe se queria ler uma das seções. Sua resposta me deixou atônito: ”Obrigado, eu não quero ler, eu preciso comer”. Sua firmeza na voz e sua franqueza ao me confidenciar sua vontade, mostrou o quanto eu estava certo a respeito daquele homem.

Convidei-o para irmos a uma panificadora e lá, bem instalados, tomamos um ótimo café – bem reforçado para ele – e começamos a conversar. Em quase duas horas de completa entrega da parte dele, fiquei sabendo de toda sua vida. Profissional liberal, com curso de doutorado, havia perdido o emprego e após um período, ficou também sem a família – mulher e dois filhos – que lhe abandonaram quando a situação começou a ficar mais difícil. Segundo ele, sua ex-esposa não suportou a queda no padrão de vida e resolveu voltar para a casa dos pais, levando as crianças com ele.

Ao ficar só, vendeu tudo que ainda possuía – que não era muito – e começou uma vida de andarilho, sem rumo e lugar certo para ficar, comer, dormir, etc. Viveu dessa maneira por oito meses, até que o dinheiro e o crédito acabaram e quando isso aconteceu, foi procurar refúgio na bebida e com isso sua vida acabou ficando ainda pior.

Falei então de minha experiência pessoal, pois eu também tive esses problemas – sou dependente químico – até chegar a uma comunidade para começar minha recuperação. Indaguei-lhe se gostaria de conhecer o local e ele, prontamente, aceitou. Foi recebido de braços abertos e lá permaneceu por cinco meses, durante os quais, eu sempre que podia, ia visitá-lo e saber como estava.

Ao sair, ligou-me e disse: “Obrigado por tudo. Por ter me indicado à comunidade, pelas suas visitas, pelo seu apoio e por um fato muito importante que um dia vou te contar. Por enquanto, eu tenho a minha vida de volta”. Respondi-lhe que só queria vê-lo bem, com saúde, empregado e, se possível, com sua família de volta.

Durante dois anos, fiquei sem notícias suas, até que um dia, o telefone tocou e era ele. Estava feliz. Muito bem empregado, como consultor em sua área de atuação, com um ótimo padrão de vida e, pelo menos, com os filhos de volta. Ao se despedir, disse-me: “Agora, posso te dizer qual era o fato muito importante. Muito obrigado, pois se não fosse você e a comunidade, eu não teria encontrado e conhecido a DEUS, e ainda, ter conversado com ELE. Hoje, meu caro amigo, eu amo o SENHOR, acima de qualquer coisa, amo você e me amo, muito, muito mesmo. Obrigado, mais uma vez e que ELE te guarde”.

Confesso que chorei ao ouvir aquelas palavras e um filme passou pela minha cabeça. Eu também só posso dizer: “Comunidade, obrigado pela minha vida”. Ainda dizem que DEUS não existe.

José Aresta
Enviado por José Aresta em 21/05/2010
Código do texto: T2270891
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