Observador urbano II
Ele vem pela rua conjecturando sobre a cor do novo carro que compraria.
Preto ou branco?
Tropeça, acidentalmente, num saco de lixo no meio da calçada. Xinga alguma entidade incorpórea e apruma o terno de quatrocentos reais.
Subitamente o saco de lixo ergue a cabeça e fita-o com olhos arregalados e dementes. Não têm braços e apenas uma perna atrofiada. Na ponta dos dedos do único pé há um pedaço de pão sujo e roído. Arrasta-se como uma cobra para a extremidade da calçada, escondendo-se na penumbra. Novamente inclina-se sobre o pão roído numa tentativa sôfrega de nutrição.
Dando as costas para o saco de lixo ele volta a caminhar.
Preto ou branco?