Confissões e Confusões.
Olhava ao redor e maravilhada percebia que só havia paz, distribuida em um céu azul e um mar de águas claras e serenas( ainda que frias).
Podia parar e refletir sobre os últimos acontecimentos que (des)norteavam sua vida. Misturar confissões e confusões, se achar/ se perder, se (re)conhecer em si mesma.
Sentia no vento morno e na areia quente a carícia de um desejo que surgia leve e fugidio, como quem veio para ficar em definitivo ou partir para sempre.
Mente conflituada, sensação de carinho crescente, diferente das já experimentadas vontades de se deixar levar pelo sentimento há muito esquecido/caído/ largado/deixado para trás.
Sim. Já viveu um grande e inesquecível amor( daqueles de se dividir o chocolate de morango com mordidas e lambidas no delicioso creme que se deixava esquecido no canto da boca).
Até pensou que se morre de desgosto, sobreviveu ao pileque e ás lágrimas, tocou a vida em frente como nuvens que são varridas no céu pelos caprichos incertos dos ventos.
Estava se sentindo diferente, sem conseguir se (re)definir ou explicar.
O medo e o desejo, a busca pelo novo e a freada instintiva para não sofrer ou não se precipitar se confundiam á cada segundo dentro dela.
Já havia amado tão intensamente e tão inteiramente, que ainda guardava as dores deste amor.
Com o passar dos anos novos fatos/atos/fotos/vídeos...o papel da lembrança armazenada no canto mais secreto e íntimo da alma, amareleceu, desbotou mas não se rasgou ou perdeu as heranças de dor e saudade.
Agora se via em curva da longa avenida da vida, de pé, sozinha, perdida em sensações que lhe ofereciam tensão e tesão.
Vez ou outra, uma escuna cortava o silêncio daquela tarde,rasgando o brilho calmo da água do mar, era assim que se sentia na verdade, após o silêncio havia um som diferente, após a calmaria havia uma correnteza veloz.
Não entendia/sabia, mas apesar do novo, parecia já (re)conhecer o que ía no íntimo...
Via crescer um misto de vontade de mergulhar e saber existir aquele mar logo ali e desejo de sair daquela areia aconchegante que acalentava alma e corpo.
Entendia no alto de suas décadas de vida, que estava (re)descobrindo uma coisa que de tão nova já havia existido em seu mundo. Sabia com plena convicção que poderia novamente ser irremediavelmente feliz ou novamente terminar sozinha em si mesma, com o mar lambendo seus pés ao acariciar a areia nunca inerte.
Mas na calma daquela tarde de outono estava tentando mais uma vez, apenas tentar (re)organizar seus sentimentos e sua vida.
Esperar que, com a noite já colorindo o horizonte ( hora do dia que mais gostava) suas confusões e confissões se entendessem, para que pudesse (re) conciliada consigo mesma, plena e em paz adormecer e deixar ainda que em sonhos que a doce e conflituada delícia de sentimentos a inebriasse até nova pausa na vida para poder se consumir em seus mistérios silentes/ gritantes.
Márcia Barcelos.