E agora, Capitão Nascimento?

O senhor que faz parte dos nossos clamores mais instintivos. E que soube, mais que ninguém, ser nossa bandeira de vingança contra o descaso histórico que criou monstros sociais. O senhor que mostrou, e popularizou, o Batalhão de Operações Especiais da Policia Militar do Rio de Janeiro, o BOPE, em sua mais "heróica" face, e de quebra ainda encantou corações com sua masculinidade e potencial militar. Tudo isso no filme.

Só que aqui, do outro lado da tela, a coisa é real Capitão. Não há roteiro, nem ensaios. Como dizem por aí: "O bagulho é doido!". E policial de elite, antes de tudo também é gente. Que pensa. Que faz parte de uma família. Que, como todo mundo, tem medo de morrer. E também é afetado pelo pavor social bancado pela mídia, que resulta no estresse espiritual, que instrumentaliza a vingança como solução.

E o Policial de elite-gente, quando entra numa comunidade, pensa e sente uma saudade antecipada dos que amam e parte com tudo para sobreviver, e para não morrer (desculpe a redundância), mata! E quem morre, nem sempre tem tempo de falar que não é gente do "Baiano" é gente do povo, que também alimenta sonhos; que tem família e quer, também, viver em paz com a esposa e os filhos.

Na verdade, capitão, são irmãos e a vida tem sua forma de fazer seus caminhos se cruzarem, e quando o que sugestiona é mais forte do que o diálogo, a atitude vem antes do pensamento. E aí Capitão, aqui se morre de verdade! E a esposa chora; e os filhos ficam sem pai; e o Policial de elite marca sua vida com sangue, este também real.

Não, não vou discutir as soluções do estado. Tais não merecem comentários, e neste ponto, aqui no real se parece, e muito, com o que o senhor mostra aí no filme.

Sabe Capitão, para terminar só lembro que o mal está, antes de tudo, no coração, e não há nada que se possa fazer fora do homem que tenha poder de mudar a situação. Lembro também que "Olho por olho e dente por dente" faz mais vitimas do que justiça. E que o homem é, também, o instrumento do bem ou do mal. Este é o fato, independente de ser um policial, bandido ou um Fiscal de loja com uma "furadeira de trabalho" nas mãos.

Pode deixar, vou, antes do senhor me "pedir para sair".

Ubirajara Oliveira

Jornalista