HOMENZINHO CABEÇUDO

CRÔNICA 2ª: HOMENZINHO CABEÇUDO.

Ali estava ele novamente, o homenzinho cabeçudo, sentado na bela cadeira de mogno envernizado, frente a uma imensa variedade de câmeras e microfones. Como de costume, centenas de repórteres expremiam-se entre esbarrões e empurrões, buscando uma melhor posição para ouvir e registrar as sábias, sempre sábias palavras, do homenzinho de fronte altiva. O olhar firme (entre os óculos) fixado ao nada, era apaixonante e demonstrava uma erudição artística envolvente.

Todos aguardavam ansiosamente pelo discurso do pequeno homem, discursos estes, historicamente; tão cheios de solidez e revelações. O ultimo revolucionara parte da economia nacional, modificara parâmetros com engenhosidade magistral. Ora! Não por pouco que o homenzinho possuía tão alto cargo governamental. Expressava sempre através de seus discursos e afirmações: A sensatez que lhe demonstrava a face.

Mas hoje havia algo errado. O homenzinho parecia apreensivo, algo lhe fugia às mãos vazias, seus dedos em vão procuravam por uma matéria inexistente. A gravata de um vermelho luzente, parecia sufocar a pequena criatura fazendo-o suar imoderado.

Os repórteres foram os primeiros a perceberem o aparente desconforto do pequeno homem. E logo iniciaram os cochichos tão comuns desta classe profissional (O que há com ele? - Ele não parece estranho? - Vejam como ele ta suando! A notícia não deve ser boa. - Por que essa demora?). O homenzinho de percepção evoluída logo notou o que ocorria e, deste modo, o desconforto que já se tornara audível; agora se expunha gritante.

O nervosismo exibia-se no homenzinho cabeçudo de diversas maneiras: Ora remexia-se, ora levantava, ora coçava o nariz, orelhas e as palmas das mãos. A sudorese era inexorável e a camisa cara de linho fazia o favor de demonstrá-la a todos, de modo diretamente proporcional ao preço pago. Tudo soava muito estranho enquanto o tempo somente acumulava-se.

Alguns repórteres impacientes ensaiaram alguns questionamentos, mas foram barrados pelo simples olhar (clamante de paciência) do homenzinho. Mais alguns minutos passaram, outros mais, e outros, finalmente a impaciência e curiosidade já estavam generalizadas. Um motim estava a ponto de ocorrer quando: Um homenzinho baixinho, com óculos grossos e gravata frouxa adentrou as pressas no recinto, entregou algumas folhas ao homem cabeçudo e saiu após um pedido de desculpas e um agradecimento retórico.

Agora sem nenhuma apreensão ou desconforto o homenzinho cabeçudo levantou-se, ajeitou os óculos redondos; seguidamente iniciou a leitura do seu discurso.

Pouco tempo depois seria agraciado no meio midiático por suas resoluções sábias e superiores.

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J V I C T O R F R A N C A 20/05/2010