Viver e Amar.

Queria entender o verdadeiro sentido da vida, ir bem lá no fundo, mergulhar na essência de um sentido que fosse capaz de explicar ou até mesmo de complicar ainda mais as minhas verdades já tão confusas.

Talvez andar descalça pelas areias do tempo, buscando na magia uma dose de bálsamo capaz de fazer adormecer e sonhar com medo de acordar, mas tendo a certeza de que isso é necessário para o crescimento da alma.

Mesmo na dor de amar, ir bem fundo, deixar o coração sangrar, o corpo ir ao delírio e o pensamento dar verdadeiros nós. Fazendo de dois um, ou tornando dois mundos tão distantes em tão próximos e possíveis por alguns instantes que sejam.

Descobrir nas escrituras antigas dos povos já extintos, uma poção mágica que transformasse o amor ou qualquer que seja o nome deste sentimento surgido ao mero acaso, ou de uma história que acontece através do próprio tempo, que nos constrói e nos desfaz á cada novo dia, em uma coisa menos dolorida.

Caminhar sem culpas e sem medos de pensar na realidade, pois sabe-se que amar é bom e necessário,mas este mesmo amor por vezes se transforma em pecado quase mortal e dói saber que a solidão sempre chega em doses altas e nada homeopáticas, invariavelmente durante noites e madrugadas sem fim.

Não creio haver remédio capaz de curar esta patologia que faz tremer e tontear, que desabaratina para fazer se encontrar, que mexe/remexe e acaba deixando tudo meio repleto de brumas e espumas espalhadas pelos quatro cantos do espírito.

Certamente, e agora tenho motivos de sobra para saber que nem mesmo um médico ou feiticeiro, que seja vai saber dar um jeito ou receitar para combater esta situação deliciosamente agravante e confusa. Quase fatal...incurável.

Também, sei que não serão os magos e sacerdotes, os deuses do Olimpo e nem mesmo os Druídas, que farão brotar este feitiço que já nasceu em mim e passou a habitar em nós de uma maneira tão rápida que lentamente nos deu a certeza de que era tão antigo e inexplicavelmente tão mais velho que nós, que de tão recente nos deixa atônitos.

Mas nos deixa a certeza de que viver ainda vale a pena, quando temos alguém para pensar no exato momento em que depositamos nossos pensamentos no travesseiro e tentamos entregar-nos aos braços de Morfeu e aos encantos sutis de Merlin. E dormimos e sonhamos e despertamos divididos entre deixar a razão falar mais alto,ou deixar a emoção berrar para os invisíveis muros do universo, do nosso universo, a necessidade de estar ao lado ( mesmo que do outro lado de alguma linha), daquela pessoa que mesmo por um curto espaço de tempo nos faz mais feliz e paradoxalmente mais sofredores.

Tudo bem, aprendi e isto se confirma á cada novo dia, que viver e amar são duas coisas tão estranhas que não devemos tentar desvendar seus mistérios, talvez seja mais sensato tentar entender, mas sem sombra de dúvidas é muito mais saudável viver com intensidade estes momentos. Afinal, levamos tão pouco da vida, para não falarmos amargamente que nada levamos desta difícil escalada ao descanso (?) eterno.

Então eu só queria falar, que não penso em futuro, mas não desisto de viver esperando por ele, sei que chegará um momento em que qualquer forma de amar será livre de pecados e injustificadas confusões.

Márcia Barcelos.

14/10/1991.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 20/05/2010
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