OUTONO

Gosto desse gosto de outono que sinto ao degustar as tardes de maio.

Gosto desse vento vagabundo, que vadia no tempo, que faz desgarrar as folhas e as lançam assim ao léu. Gosto desse frio lerdo que vai chegando manso, entristecendo o ânimo da natureza, que se confortará no dia seguinte, ou quem sabe, somente quando a demorada primavera chegar.

A melancolia que o outono nos traz, é composta de versos de tristeza que não arde, nem corrói. É uma tristeza branda, que nas noites até acarinha e caleja o coração para deixá-lo carente feito cãozinho mimado abandonado nos caminhos e assim ficar mais apto a receber e retribuir os afagos da primavera.

Os campos nus que a brisa do outono alardeia, o capim secando e escondendo os lírios desflorados sob sua saia de linho cru, o silêncio da passarada, rompido tão somente pelo triste canto dos sabiás laranjeira, não me entristecem não. Gosto desse aroma que o outono me traz, como se dissessem que o pior está por vir; que o inverno se anuncia e é bem mais tristonho.

Talvez eu seja triste e combine com o outono. E me alegro com sua companhia. Quem sabe por que ele vai calando a algazarra do verão e meu coração peça silêncio para repensar a vida. E se a chuva chega, fria e cortante e eu precisar de conforto, então vou para debaixo do laranjal, pudor casto do outono e encho o peito e o sangue do seu aroma e assim me acalmo e me preparo para o rigor do inverno que chega.

Se o poeta se inspira na despedida, se canta o desamor, eu me encanto no outono, para encantar quando a primavera chegar.