ACREDITE QUEM QUISER
O nome dela? Celinha, pode ser. A história? Mais ou menos assim. Mas o que importa mesmo é que a moça é pra lá de avoada! Sempre no mundo da lua. Com umas manias esquisitas. Ninguém entende muito bem. Mas é assim mesmo. Todo mundo tem lá suas esquisitices, não? Então, deixa de lado. Ninguém amola a moça! E depois, é competente. Boa colega de trabalho, querida na repartição. Funcionária antiga, de confiança... Qual é o problema?
Estranhezas da Celinha? Muitas. Por exemplo, a mania por artista. Fora do limite, isso. Em casa, o quarto todo enfeitado. Estampas pra todo lado. Recortes de revistas. Imensidão de fotos. Antigas, recentes, de todo jeito. Tudo que acha, coleciona. Mosaicos de celebridades, pregados nas portas, nas janelas, na cama. Coisa de outros tempos. Hoje em dia, pra lá de brega... A irmã, Tetê, não resiste “Isso não existe mais, Celinha. Essa moda de pregar ídolo na parede já era!”. E ela escuta? Entra por um ouvido sai pelo outro.
Início da tarde, volta do almoço. Celinha entra correndo na repartição. O rosto vermelho, suado. Bolsa na cadeira, dispara “Gente, eu acabei de ver o Fábio Júnior!”. Olhares se cruzam. Todo mundo meio desconfiado. Nossa, desandou! Pirou de vez! Ela quer falar. Engasga, perde o fôlego, a voz não sai. Ana vem correndo com um copo “Calma Celinha! Bebe uma aguinha!”. Silêncio significativo. As colegas não arriscam palavra. Ela percebe: “Cês não tão acreditando, né? Mas eu vi! O Fábio Júnior em carne e osso, na minha frente!”. Fábio Júnior, em carne e osso, na frente dela? Ah, tá bom! Mais silêncio...
Marilena é a mais sensata “É claro que cê viu, Celinha! Conta, aí, como é que foi?”. Meu Deus! Todo mundo sabe, ela não viu nada! Divagações! Doidices de sua cabeça lunática. Coitada! Tanta gravura na parede, ensandeceu! O Fábio se materializou, pulou da foto, virou de verdade, foi passear na lagoa. Pode? Ela se acalma “Pois é, meninas, ele veio num carrão lá dos lados do campo de aviação. Desceu e ficou olhando as águas da lagoa”. A Bete arrisca “E cê tava onde?” Ela respira fundo “Como, eu tava onde? Vindo pra cá, né? Esqueceu que moro pertinho da lagoa?”
Pena! Coitada da Celinha, gente! Onde já se viu? Fábio Júnior perdido numa cidadezinha neste fim de mundo? Olhando água de lagoa no horário do almoço? Alguém sai vendo gente famosa por aí, a torto e a direito, em pleno meio-dia? O caso é pior do que pensam. Não demora, vão ter que internar a moça. Pena mesmo, ela é boa gente, gostam dela! Clima meio tenso. O boy entra assoviando todo feliz “Gente, olha só o que deu na rádio, agorinha: Fábio Júnior vai fazer um show aqui nas redondezas. Desceu hoje no campo de aviação, passou pela cidade e ninguém ficou sabendo, pode?”. A Marilena suspira “Pode, ô como pode!”... O resto? Todo mundo embasbacado olhando pra cara da Celinha...