Separação
O que mais doí na separação é o recolhimento dos cacos que se deixam ficar por todos os cantos do armário da lembrança.
O que mais marca na separação é o grande paradoxo que existe, onde cresce uma incompreeensão e um anseio, como a suplicar-se ao mesmo tempo que o outro não se fosse e que não deixasse de ir.
O difícil na separação é emprestar tom natural ao olhar, mesmo sentindo naquele momento compacto,todo o meu ser se esvaindo em direção ao outro. E só agora me recordo não ser capaz de recordar de nehuma cor no momento da separação, foi uma total ausência de cores e uma presença maciça de palavras a tumultuarem o instante já tão confuso de dúvidas e certezas que se misturavam.
O que mais me sufoca na separação é o tom terno,porém sincero na hora da partida, na tentativa de cortar o fio que une dois mundos. Aí fica-se retido, sem movimento,sentindo opranto se formar em algum lugar bem dentro do peito.
O que mais dói na separação é chegar em casa e encontrar na vitrola músicas compartidas e na estante ( ainda sorrindo) uma foto...
...foto que chegou atrasada, sorriso que se fez requentado,afeto pedido,uma (in)certeza cheia de dores e lamentos e uma chuva amargando ainda mais a dupla solidão: a solidão de um corpo e a solidão de um sentimento,agora calado...separado.
Márcia Barcelos.
(03/03/1991).