O ANJO E EU.
Ontem à noite um anjo veio visitar meus sonhos.
Ele contou-me coisas sobre o outro lado, alguns segredos
e cantou músicas da infância;
Ele não me disse seu nome.
Ele não quis saber o meu.
Ele sentou ao meu lado debaixo da macieira e me fez olhar a volta.
Vi a primavera florida. Vi pássaros. Vi águas calmas num lago.
Vi a vida.
O anjo, então, voltou-se pra mim e tocou meu coração.
Ele viu tristezas. Ele viu mágoas e ressentimentos. Ele viu angústias sem fim.
Ele viu a morte.
Meu anjo entristeceu, doendo junto com as minhas melancolias.
E ficamos por minutos a fio sentindo juntos as dores de uma vida inteira de infelicidades,
decepções, esperanças roubadas, sentimentos errados.
Mas como que cansado de sofrer e de compactuar com aquela minha vontade de deixar vencer pelas causas não resolvidas,
meu anjo levantou e ofereceu-me a mão.
Fui com ele.
Andamos até a beira do lago. Ele molhou os pés. Eu também.
Ele apontou para a árvore distante, do outro lado.
Eu a olhei, mas sem entender de fato o que ele queria dizer.
Então, através de seus olhos cor de céu, eu percebi tudo.
Descobri que eu era como aquela velha árvore: Por fora parecia frágil, quebrada, irremediavelmente abandonada. E tudo tinha me passado, tudo me acontecia, e de tanto sofrer estava fraca, cansada e desistente.
Mas apesar de tudo, estava ali, ainda viva. Uma desistente resistindo as tempestades.
E enxerguei que não queria desistir, não queria me deixar.
Percebi que eu tinha tido até ali uma vida exaustiva e marcada pelos medos, mas mesmo assim eu não havia me largado. Não havia.
No fundo, eu descobri, o que me movia para frente era uma única coisa, mais forte que tudo, maior que as dores, melhor que qualquer esperança:
Era minha fé em tempos melhores.
Meu anjo sorriu.
Eu retribuí.
E como se tudo já me tivesse sido ensinado, ele se foi.
Comentário da escritora: Releia. Tire suas próprias conclusões. Textos não precisam ter para todos o mesmo tipo de interpretação. Sinta-se apenas bem em ler e busque sempre a SUA felicidade.