Além das promessas de campanha

O desespero mostrou sua dura e fria face quando Ângela notou que o pequeno Victor continuava com febre. Já não sabia mais o que fazer. Olhou e viu que, apesar das belíssimas campanhas publicitárias, o atendimento no Sistema publico de Saúde continuava... "deixando a desejar".

A fila aumentava a cada minuto. O Vigilante com a cara de "poucos amigos" representava a "bem-vindo contribuinte".

Gente de todas as idades agonizavam na esperança de ouvir seus nomes serem chamados, para, pelo menos, atenuar o sofrimento naquela madrugada fria, naquela grande metrópole, daquele país, que "promete um futuro promissor".

O caso de Ângela era só mais um, entre tantos. Chegou do trabalho as oito da noite do dia anterior. Isso depois de um trem lotado as seis da manhã e outro mais lotado ainda as seis da tarde. E como fazia todos os dias, foi até a casa da mãe, dona Eulália, buscar o pequeno Victor, três aninhos, filho e força para continuar. Ouviu antes do "boa noite" o "relatório":

- Passou mal o dia todo. Ficou deitado. Amuado.

Depois do "diagnostico" da mãe, Ângela segurou o menino adormecido nos braços e sentiu o calor da temperatura. Concordou com dona Eulália e se apressou para chegar na pequena casa nos fundos do terreno. Depois de várias tentativas de melhorar o quadro, decidiu, as duas da manhã, levar o pequeno até um destes Hospitais mostrados nas campanhas políticas como "maravilhosos".

Voltamos a fila da Unidade de Saúde. Agela verificou o relógio, "cinco da manhã". Continuava alí,sentada no chão frio com o pequeno Victor no colo. A febre aumentava a cada minuto. O pequeno não reagia as investidas da mãe. A mente, confusa e cansada, lembrou a realidade de que não poder faltar o trabalho. Era o sustento de Victor. Neste momento a expressão séria do encarregado da fábrica, Seu Orlandino, surgiu nos pensamentos. Não havia garantias trabalhistas, pelo menos não para ela.

Olhou mais uma vez em direção da "porta da esperança": Nada além do Segurança. Lágrimas brotaram nos seus olhos. Viu que sua história era só mais uma entre tantas que são contadas todos os dias e todas as noites sem os holofotes da televisão... Abraçou o filho e continuou.

Oi gente, aqui é o autor. Sei que todos torcem por um final feliz para o pequeno Victor e sua mãe.

Só que, infelizmente, vejo esta mesma história se repetir e vejo, também, que um final feliz está longe de acontecer, apesar de todos os discursos.

Por isso faço desta pequena crônica um ponto de solidariedade a todos que vivem o Brasil além do espetáculo e das conivências publicitárias.

Que Deus cuide das Angelas e dos pequenos Victos do Brasil.