Sob nova direção
SOB NOVA DIREÇÃO
(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 19.05.2010)
A Fundação Catarinense de Cultura estreia novo presidente. A boa notícia é que ele não é da área, ou seja, não é artista nem produtor, professor nem empresário. É filiado ao partido no poder, mas fugir disso, hoje, ainda é praticamente impossível. E, para um administrador honesto, absolutamente indiferente. É um técnico mas, por sorte, não será acusado de tendencialidade: não é técnico em artes, nem em patrimônio, nem em edificações.
Até onde sei, não o conheço pessoalmente - o que é um bom sinal (para ele). Ignoro seus conhecimentos específicos das coisas da Cultura. Nessa posição presidencial não é problema maior confundir o nome de um pintor com o de um escritor. O que não se pode admitir é confundir um quadro com um livro.
O que é, então, esse homem que não é um monte de coisas?
Antonio Ubiratan de Alencastro era, até ontem, Gerente de Administração, Finanças e Contabilidade da mesma FCC, onde se encontra há quatro anos. Durante outros quatro, atuou na coordenação de licitações da Assembleia Legislativa. Já passou por cargos estaduais no Turismo e foi suplente de vereador, em exercício, na Câmara da Capital.
Apesar desse currículo, Alencastro não é funcionário de carreira da casa nem do Estado, mas um administrador formado pela ESAG que enveredou pela vida pública em virtude de ligações políticas (caso possa ser considerada virtude uma ligação política).
O que pode fazer pela Cultura esse homem nos 7 meses e meio (menos do que uma gestação normal) que lhe restam?
Talvez manter os programas e convênios que, a muito custo, foram conquistados e estão em andamento - crime será abortá-los agora -, cumprir as leis do setor (edição mensal do jornal Ô Catarina! e compra de livros de autores catarinenses para bibliotecas públicas municipais, por exemplo) e abrir a caixa-preta do Centro Integrado de Cultura, em Florianópolis: por que as obras não caminham, quais são as empresas que estão colocando obstáculos às licitações - e com quais méritos e intenções o fazem -, qual foi o lucro ou o prejuízo de abrigar no CIC uma mostra de arquitetura e decoração que botou paredes abaixo - e em quais condições as instalações estão sendo devolvidas.
Mesmo porque precisamos com urgência da volta do cinema, do teatro e do museu, soterrados sob os escombros dessas obras que nunca terminam como se fossem uma BR-101 ou uma Ponte Hercílio Luz.
(Amilcar Neves é escritor com sete livros de ficção publicados, diversos outros ainda inéditos, participação em 31 coletâneas e 44 premiações em concursos literários no Brasil e no exterior)