SANGUESSUGAS
Ao estacionar o meu carro na área privativa do supermercado me encontrei com um conhecido que há tempo eu não via; paramos e começamos a conversar. Delicado, polido e cortês, como convém às pessoas desse metier, confidenciou-me que estava no “staff” de um candidato a deputado. Era assessor político de uma pessoa de boa índole e caráter ilibado, extremamente preocupado com o bem social.
Causou-me espanto, pois, há bem pouco tempo ele fazia parte do séquito de outro candidato, e segundo suas próprias afirmações e conceito, tal candidato possuía esse mesmo feitio moral, as mesmas boas e sólidas convicções.
Então o assessor político, passou o braço no meu ombro e me explicou a meia voz, a mudança de lado. Disse que analisando mais profundamente as ideias do antigo candidato, chegou à conclusão que elas não coadunavam com as suas; contrariavam a sua formação política e cristã. Assim sendo, a mudança então teve como motivo uma questão de ética e princípios. - Não acha correto, meu querido? Indagou-me, quase afirmando.
Respondi com um airoso meneio de cabeça, seguido de um leve sorriso e nos despedimos.
Meu Deus! Quanta hipocrisia!
Assessor Político! Engraçado como tais pessoas têm nomes pomposos para o cargo que ocupam, uns são lobbistas, outros são assessores, outros mais são ativistas e por aí vão. Chique, não é?
Não faltam cenaristas na praça. Eles industrializam situações que suas mentes geralmente turvas, supõem realidade. Criam fantasias estapafúrdias. São paradoxais. Contraproducentes. Travestem-se de vestais, mas caberiam em qualquer armário de prostituição. Arvoram-se detentores de sapiência. São loquazes. Convencem incautos. Sensibilizam ingênuos. Manipulam energúmenos. Hipnotizam amigos que preferem retirar qualquer véu de criticidade de seus argumentos.
Quem ouve esses malabaristas semânticos sem a devida cautela, acaba por se enredar em argumentos vadios. Sim, porque eles são jactantes na verborragia de uma cultura de consumo que satisfaz as necessidades destes tempos de fast-food intelectual.
É difícil definir a ocupação profissional desses desavergonhados. Eles vivem como sanguessugas grudadas nos políticos. Tem a bajulação como arte maior. Nunca fizeram outra coisa na vida. Quando os políticos espirram eles são sempre os primeiros a dizer amém.
Fico imaginando o que os seus filhos respondem guando são indagados sobre a profissão do pai.
De vez em quando fazem ancoragem nos pontos em voga para uma sondagem política, como eles mesmo dizem, e aproveitam para reabastecer o tanque de intrigas.
Não são pessoas confiáveis. Podem mudar de lado a qualquer momento, desde que o adversário de hoje lhes acene vantagens. Se vendem por um prato de lentilhas.
É pouco provável que as vítimas desses abutres sejam tão condescendentes com a auto-estima a ponto de se permitirem a viabilidade de relacionamento afetuoso e confiável. Esses malversadores sociais são irrecuperáveis porque, como os escorpiões, têm gênese contraditória.
Enfim, assessores, lobistas ou ativistas, se denominem como quiser, o que eles são mesmo, nós conhecemos por outro nome: puxa-sacos.
Deus nos livre!