Meu primeiro fio de cabelo branco

Meu primeiro fio de cabelo branco

Hoje, olhei no espelho e me assustei. Vi o tempo passando no reflexo da minha imagem. Senti o poder que ele tem sobre o meu corpo e, assim, descobri sua força inefável. Com os olhos fixados em meu reflexo, avistei um fio de cabelo branco, mas como se ainda estou na dita flor da idade? O tempo me pareceu cruel, pois estava querendo, com esse fio branco, me vergar diante da idade. Num gesto ignorante, pensei até em arrancá-lo, mas... Esse fio branco é conseqüência de vida, vida que vivi, vivo e, quiçá, ainda viverei muito.

Esse fio branco pode ter nascido da preocupação escolar, o fracasso nessa idade pode ter deixado traumas; pode ter sido resultado do primeiro amor não correspondido ou da primeira desilusão; acho que é consequência da febre de alguma doença curável, porém dolorosa; pode ter sido causado por um sonho não realizado e que tive que acordar; quem sabe, pode ter sido ocasionado por brigas banais e corriqueiras que a convivência provoca. Esse frio branco pode ter vindo do primeiro verso que não consegui rimar; do primeiro acorde que não consegui formar; do primeiro texto que parecia mais rascunho(...) Com certeza, esse frio branco é resultado de vida, minha vida para ser mais exato. A vida que caminha lado a lado com o tempo e que, de mãos dadas, vão colocando marcas em meu corpo. A vida e o tempo dão rugas e cabelos brancos, mas, também, oferecem a sabedoria para admirá-los. Estou velho, coroa? Não! Eu estou vivo, cultivando ações que me dão e darão mais cabelos brancos e rugas, talvez.

O tempo, senhor de tudo, continua passando e eu ainda em frente ao espelho olhando, todavia, sem susto o fio branco reluzente e insistente que brilha em minha cabeça. Posso agora dizer sem titubear: - esse fio branco é apenas o começo de uma cabeleira alva, se também o tempo não me levar os cabelos. O tempo é senhor de tudo, porém, a vida vivida não tem preço. O fio branco continuará em minha cabeça, nada mudará, e, sem pressa, verei a vida “grisalhar” meus cabelos. A vida segue o seu tempo e eu sou servo dos dois.

Mário Paternostro