Guaraná com Phontol

Lá pela década de 1970 ou final da década de 1960, tanto faz, começaram a aparecer as propagandas de guaraná no Interior. No início, todo mundo ficava meio distante, um negocinho meio verde com bolinhas subindo e descendo, ninguém se interessou. Depois de uns dois meses, a moda começou a pegar. Mas guaraná era caro e por que era caro e tinha sabor doce de repente se transformou em remédio pra gripe, dor de barriga e tinha gente que dizia que curava até mal de espírito. Depois do guaraná todo mundo quis ficar doente.

Curando ou não, até eu tomei guaraná pra dor de barriga, hoje não sei como, mas depois de beber guaraná com phontol, chamávamos assim, eu fiquei bem. Guaraná com phontol era só em último caso, lá na cidade tinha uma senhora que pra não ver o marido quebrantado deu até pílula paulista, que a gente só dava pra cachorro louco. A verdade é que no episódio da dor de barriga, eu tinha ido até a farmácia e convencido o dono da venda a dizer à minha mãe que só guaraná curava esse tipo de coisa. Ele me botou pra correr e acho que só de vingança mandou me dar phontol também, nem me importei, pelo menos eu bebi guaraná.

Na cidade inteira, sempre tinha um caso diferente com guaraná no meio. Na outra esquina, perto do botequim que vendia refrigerante, o Pastor comprava aos litros guaraná toda santa semana. O Seu Pastor dizia que era muito doente e precisava beber bastante guaraná, o resto da família, segundo ele, tinha saúde de ferro e só devia beber água, pra manter a boa saúde. Os dois coitados dos filhos dele só beberam guaraná quando tiveram tuberculose ou ficaram revoltados e todo mundo disse que estavam com o capeta.

Agora, até lá no Interior, menino abastado ou não anda pra cima e pra baixo com latinha de guaraná, sacolejando e derramando pra todo canto. E eu tive que esperar dor de barriga e ainda tomar phontol! Nem me importo, pelo menos bebi guaraná.