Crônica dos tabuleiros
Ao estilo da crônica os resumos interessam bem mais do que o resultado da partida. Um torneio de xadrez comemorativo no colégio e no laboratório de informática é algo fantástico. Estive presente na condição de cronista, pois desde que comecei a praticar este jogo milenar, intriga-me os mecanismos teatrais empregados para atribular o aproveitamento do lance adversário. Mesmo que isto se valha apenas de um irritado “muito obrigado!” simplesmente resmungado. Em partidas livres de torneios estudantis valem interjeições e até assobios. Porém ninguém neste caso ninguém ousou tanto exagero diante dos bigodes do juiz, seleto enxadrista, conhecedor de grandes lances; altamente experiente, pronto em nível elevado para desaranhar epopéias intrincadas no tabuleiro da maior parte dos mortais.
Após a conclusão de que “peça tocada é peça jogada” normalmente vem silêncio para deixar o adversário menos condimentado, menos salpimentado; já que está em papos de aranha, buscando solução para o ataque frustrado. Digno de nota quando um jogador reclamou com braços erguidos:
- Ele é distraído! Repetidas vezes apontando o adversário. Pesava no lance a verificação da distração incentivada como se fosse uma trombeta. Provou ser mais ausente jogando com as peças do outro. Ops! Lance irregular, sem dúvida! Cada qual deve jogar com as próprias peças.
Optaram por encerrar a partida graças ao surgimento de tais irregularidades, houve inclusive um pedido de empate, natural quando pode surtir a qualquer momento, porém não foi aceito. Também um caso de Rei que se movimentou com asas, munido das mais belas intenções para a casa que bem entendeu. Caso de uma parte que em brados giganteia o temível xeque-mate, invocado do centro da alegria triunfal, inutilmente; percebendo logo o grave erro da estratégia. Pois dizer xeque-mate sem ter sido obriga a quem exultou, tocando guitarra imaginária em torno da mesa, deitar o Rei. Regra pouco praticada, mas favorecendo maior exercício do cálculo mental.
Tratei de observar outra partida ao lado tipo blitz que se definiu com mate pastor de Bispo e Rainha em poucos lances.
Que excelente torneio comemorativo! Que vitória para uma escola, um ginásio. Todos merecedores de honras acadêmicas, além dos prêmios que esperavam. Lembrando que em torneios há espaço para equipar a tolerância com o mapa do humor. É condição dos torneios livres. Que grande momento estudantil, nunca esquecerei.