IMPIEDOSA SAUDADE

Era madrugada do dia 16 de maio, meu aniversário. Minha mãe chegou e abraçou-me apertado. E assim ficamos por alguns longos minutos. Não me contive e comecei a chorar copiosamente, pois não nos víamos havia mais de três anos.

Como toda e qualquer mãe de verdade, ela tentava consolar-me enquanto eu derramava meu pranto sobre seus ombros. Com uma das mãos afagava-me a cabeça, com a outra alisava minhas costas, porém nada dizia. Nem era preciso dizer-me nada, pois o seu gesto já falava por si só: ele afagava-me como se estivesse querendo proteger-me das surpresas desagradáveis que a vida nos apresenta, dos obstáculos que o destino nos impõe, das dores que o tempo não cura... Afinal, mãe é mãe!

Era meu aniversário... Em vez de sorrir, eu chorava. Mas sentia-me amparado nos braços da minha mãe. Ela não se esquecera de trazer-me seu abraço, seu aconchego, seu carinho, seu amor nesse dia tão importante, apesar de não mais estar entre nós. Ela partira para outra dimensão dois dias antes do seu 83º aniversário, em 24 de março de 2007. Naquele dia, um infarto fulminante não nos permitiu festejar com ela tão jubilosa data natalícia. Talvez por isso ela tenha vindo trazer-me o seu abraço e, em contrapartida, buscar o seu.

Após aquele longo e afetuoso abraço, acordei com o rosto banhado e o travesseiro encharcado de lágrimas. Eram lágrimas de saudade. Uma saudade incômoda que para sempre ficará cravada no meu coração, mas que em hipótese alguma tentarei arrancá-la de lá, pois enquanto lá ela estiver, minha mãezinha querida voltará para trazer-me o seu carinho, o seu colo, o seu amor de mãe... ainda que seja uma vez por ano.

Apesar da intensa saudade que, impiedosamente, sufocava meu peito, esse foi um dos melhores aniversários da minha vida.