SÓ MESMO CRIANÇA!

Ela tem 4 anos. Entrou agora pra escolinha. Está adorando. É filha única e não tem irmãos. Ir pra escola é pura novidade! Dá meio dia, já se aprontou. Nem trabalho pro banho dá. Já quer se arrumar sozinha “Mãe, anda depressa! A tia não gosta que chega atrasado!”. A mãe passa aperto pra dar conta da pressa dela...

Giovana é esperta. Parece que já nasceu falando. É a alegria nas horas de reunião da família. Dengo dos tios, xodó da vovó. Tristeza? Passou longe! Está sempre rindo e não deixa ninguém quieto. “Ué, tio Julinho, quê que cê tá triste?”. Se tava triste, já passou. O carinho da menina não deixa...

Lá na escola é a mesma coisa. A professora já contou aos pais. É ajudante pra tudo que é tarefa. Busca água pra professora. Ajuda os mais tímidos a acharem o banheiro. Corre pra pegar papéis caídos no chão. Socorre todo mundo. Leva recado na diretoria. É uma secretária de primeira!

Na volta da escola ela passa na vovó. A família está sempre por lá. O cafezinho da tarde é tradição na casa de dona Fia. Os filhos vão chegando. Todo mundo com cara de cansado, doido pra se revigorar com as broinhas de fubá e o pão de queijo saído do forno. Tem coisa melhor que carinho de mãe depois de um expediente estafante no fim do dia?

Giovana vai chegando. Desce correndo da Van e já vai acenando toda animada. Distribui beijinhos estalados. Toma as bênçãos da avó e dos tios. É hábito que não dispensa. A mãe fica orgulhosa! Olha a carinha toda marcada de tinta, resultado da aula de pintura. O uniforme com respingos da sopa da escola, merenda que não abre mão... Aperta sua boneca morta de saudade...

Tio Rafa é o caçula. É para os joelhos dele que ela corre depois de cumprir o ritual de cumprimentos. Ele arruma as tranças caídas e vai falando “E aí, como é mesmo a oração que a princesa aprendeu na escola? Reza pra gente...”. Ela pula pro chão e se põe a recitar “Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me reges me guardes, me governa e me ilumina, amém, boa tarde todo mundo, pode guardar as mochilinhas e sentar nas cadeirinhas que a aula vai começar...”. Ninguém resiste, e a sala se enche de aplausos...