A Lição de um Cão Aventureiro

A lição de um cão aventureiro

Quando ele chegou, mais parecia uma bolinha de pêlos, quieto, mole e meio bobo, comentei com minha mulher:_ “ Acho que o amigo que me deu este cachorrinho, escolheu o mais lerdo e tonto da ninhada.”

Minha esposa feliz com ele nos braços falou: _” Isto é bobagem.... às vezes estes quietinhos são os mais espertos”-

Palavras proféticas... Toby, nos surpreendeu com sua inteligência, à medida que crescia parecia ler nossos pensamentos, extremamente educado, comia tranqüilo sem afobação, podia estar com pedaço de carne na boca que permitia retira-lo, possuía paladar requintado gostava de maça, pimentão, repolho, rabanetes e louco por pedras de gelo

Quando queria algum alimento sempre dava um jeito de nos informar, olhando para o fogão ou geladeira, aprendeu abrir alguns armários da cozinha, deitava no sofá e sentava na cadeira na sala de jantar como se fosse gente, adorava ouvir músicas principalmente composições francesas, acredito que com treinamento especializado conseguiria falar.

Tornou-se dono da minha mulher, para encostar-se a ela tínhamos que pedir licença e nem sempre cedia o lugar, então brigávamos, trocávamos desaforos, se ouviam palavras ríspidas latidos ranger de dentes, mas no final com palavras suaves, afagos, grunhidos, fazíamos as pazes, e nos tornamos grandes amigos.

Certo dia desapareceu, nos deixando desesperados, procuramos por todos os lados, acionamos amigos parentes vizinhos e nada de encontrá-lo. Quando estávamos para distribuir sua foto no comércio em volta. Recebemos a noticia que um cachorro “Pudol médio” foi visto entre a cachorrada de outro bairro disputando as preferências das cadelas no cio.

Saímos em seu encalço e nada, parece que quando sentia nosso cheiro, escapava.

No outro dia, eis que ele vem chegando de orelhas caídas, com olhos e focinho triste, os pêlos sujos, manquitolando nos causando pena. Todas as admoestações, reprimendas que por certo iríamos fazer, esquecemos, com a alegria de tê-lo de volta.

O interessante que depois de tomar banho perfumado, os pêlos secados por secador, ser bem alimentado, acariciado, a tal perninha quebrada se curava por encanto.

O tempo foi passando e de vez em quando toby sumia. Se metia entre os cachorros de rua, e quando estava com eles fingia que não nos conhecia, depois vinha com aquele jeito sofrido com perninha quebrada. No entanto nos dava tanto amor e atenção, que não o repreendíamos.

Num belo domingo. Ele garboso com os pelos bem aparados, no nosso tradicional passeio pelo parque, alguns de seus amigos cachorros se aproximaram e ficaram nos acompanhando a distancia, imediatamente o coloquei na corrente impedindo que escapasse.

Então resolvi ter uma conversa séria com ele, sentei-me num banco do parque e falei:

_”Toby, vamos ter uma conversa sincera... não te entendo... você tem tudo conosco...

È bem tratado tem na nossa casa um belo cantinho, não te falta o alimento que te agrada, é levado sempre ao veterinário, tem vários brinquedos.

E você deixa tudo isso para sair por aí com estes cachorros vira-latas? Não vê que você é um cachorro de raça educado e de fino trato?... Será que não te damos amor suficiente ou somos péssimos donos?”

Toby sentou na minha frente e me olhou fixamente, deu leve latida como a me dizer para prestar atenção, e depois com olhar brilhante e úmido, transmitiu sua mensagem;

_ “Você está muito enganado, não tenho donos, estou com vocês porque quero, sou muito feliz e grato por tudo o que fazem por mim”

Ele se levantou andou de um lado para outro, dando a impressão que procurava uma melhor maneira de me falar, e grunhindo e me olhando me disse:

“Sou do mundo adoro andar a esmo, adoro estar entre cães sem destino, quando vejo a liberdade deles, fico fascinado, o gosto de aventura me toma, sei que corro grande risco de ser atropelado, preso, envenenado com restos de comidas, entendo que viver é correr riscos.

Desculpem-me, mas essa vontade é mais forte que eu.”

Respondi: _ “Agora entendi... você quer viver uma vida dupla? Passa um tempo na sua casa e depois sai à cata de aventuras...? Tá bom... mas hoje vai ficar conosco.”

Ele balançou a cabeça confirmando, passeamos mais um pouco e depois votamos para casa.

No meio da noite acordamos com fortes latidos na rua, uma matilha de cães o chamava para as aventuras, vinham buscar o seu líder.

Não houve trancas ou fechaduras que o prendessem. De forma desconhecida e inexplicável ele conseguiu escapar e partiu feliz com seus amigos.

No bairro todos comentavam o estranho fato de um cachorro Pudol de tamanho médio, brigando, impondo ordens e comandando um bando de vira-latas.

E assim foi até o fim da sua vida, a maior parte do tempo ao nosso lado, dócil e carinhoso e de vez em quando comandando o seu bando de cachorros sem dono.

Quando morreu deixou um vazio imensurável, até hoje não tivemos coragem de substituí-lo.

Às vezes vejo Pudols em meio à vira latas, que para mim são mais espertos e inteligentes que cães de raça.

Fico emocionado. Então faço uma prece, pedindo a Deus que o abençoe lá no céu dos animais

Peço que lhe entregue a minha mensagem de agradecimento, pelo carinho atenção e amor sincero que nos ofertou, e também pela lição que deixou...

Devemos respeitar o sonho de liberdade...

Mesmo que seja dos animais...