Crédito mágico

O crédito ilusionista é irrecusável. Nasce da oportunidade do desenvolvimento. Situa-se na tentativa primeira de avanço. No interior tal acontecimento iludível do crédito mágico é bem mais visível. Muitos conhecem os azares dessa promessa elaborada para os mais necessitados. Sequer é útil empregar grande imaginação para compreender a eficácia dos convites mágicos Segue-se em seguida o ritual jurídico de cobrança com os parâmetros da insolvência. Quebra quase sempre a primeira empresa, muitas delas originando-se após o insucesso tendo o judiciário como mediador. Exulta o grande aparato utilizado para golpear com o fracasso o intento do desenvolvimento que acerta como justiça a ruína. Acerto ou desacerto?

A facilidade ilusória gera o instinto trágico em seu clima angustioso e fantástico. A publicidade encantadora não penetra no âmago de nenhuma questão quando se trata de oferta. É o seu dom de cumprir o certo mágico evento, pronto para transformar ambição na Casa das Sete Torres de Nathaniel Hawthorne. Converte ambição nefasta, que era apenas trabalho, nesse contexto de pretensas facilidades para os exploradores da esperança.*

Quanto a planos de recuperação, queixava-me ao senhor leiloeiro em diálogo informal de que o sistema ama o desmoronamento, e tudo faz para derrubar os que já estão caindo. Daí porque se vence bem mais pela coragem do que pela inteligência neste país de meninos. Alertava-me; porém o homem versado na arte da leiloaria, quanto ao fator negligência. Citava-me por alto caso de falimento onde os cartões de crédito** nas mãos habilidosas das amantes aparecem como primeiro lance no festim pantagruélico. Apesar de não duvidar o quanto encarece a suspeita da ausência de acompanhamento técnico na zona de perigo. É mesmo singular o ritual criado pelo sistema para impulsionar a derrocada na zona de risco. Como se o terreno fosse sempre o mesmo tendo que empurrar para o abismo uns em detrimento de outros. O moralismo idiótico desses preceitos draconianos ornamenta o fracasso com o condimento do falso heroísmo. Por ódio silencioso que há por sobre o raio de sol em alguém que apenas se abriga. Mas em muitos casos é a carcaça do crédito mágico quem espalha fumaça nos valores dos destroços. Como o urubu que de urubu livre passa a funcionário no poema de João Cabral.

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* Não se trata de criar uma retração no crédito, mas sim unir potencialidades para determinar entre erros e acertos o caminho do pacto social. Pacto elaborado com menor rigor longe das grandes vitrines urbanas. Há um tratamento diferenciado inegável em termos de parceria e tecnologia.

** Clique e peça...