É Made in Brazil.

Com mais facilidades "pegamos" modismos que resfriados. Aliás, resfriados e gripes estão em alta, lá na caixa prego um porco ou uma galinha resolve ter uma gripe e lá vamos nós todos para a fila da vacina, submeter nossos pobres braços a imperícia de algumas agentes de saúde. Definitivamente algumas pessoas não deviam aplicar injeção, por falta de habilidade, mão pesada, revolta com a vida (meu braço ainda dói).

Creio que isso acontece por sermos colonizados e mais recentemente "país emergente". Ora, emergente para mim é algo próximo à emergência, ou seja, salve-se quem puder, cada um por si e Deus por todos (e o satanás por alguns), e é justamente o que vemos.

Emergente o escambau! País esculhambado, isso sim, onde o maior aqui é dono de um "campo de falácias" - que, conforme Érico Veríssimo, é aquilo que quanto menos se tem mais se possui - a exemplo desse monte de político que diante de um microfone promete ou fala difícil, acreditando piamente ou claramente mentindo, para esse povo que ou não tem tempo para pensar, ocupado em sobreviver, ou não tá nem ai, quanto mais esculhambação melhor.

Há duas categorias que fazem da esculhambação geral um modo de vida: os bandidos e os "banqueiros" (entenda-se por "banqueiros" aqueles que ganham com a crise geral, econômica e moral desse país). A nós, o povo que vive fazendo mais malabarismo que os artistas do Cirque du Soleil e ganhando bem menos, resta ouvir vagas notícias de dólares em cuecas, que depois de recuperados não se tem mais nem vagas notícias.

Com a faca na guela, suportamos todos os abusos, desde o SUS até o cartel dos Planos de Saúde, que tem esse nome porque só os saudáveis podem possuir um e mesmo assim se não se atreverem a ficar doentes - apesar de ninguém avisar que eles fazem algum tipo de mágica para o usuário não adoecer - para não gerar despesas. Creio mesmo que chegará o dia que o fato de ficar doente será motivo de exclusão do usuário do Plano de Saúde. Imagino o diálogo:

- Mas, eu pago esse plano há vinte anos! - diz o usuário indignado.

- Compreendo, senhor, mas aqui no parágrafo 12.346 (escrito em letras microscópicas) do contrato está claro que se o usuário vier a adoecer estará perdendo imediatamente todos os direitos. - diz a voz impessoal, no gerúndio e com um indefectível sotaque paulista.

- Mas, eu fiz um Plano de Saúde! - repete o pobre usuário nas vascas da agonia.

- Compreendo (diz a voz que não compreende zorra nenhuma) senhor, mas no momento a empresa não estará fazendo o Plano de Doença, que seria mais indicado ao caso. Se o senhor desejar a empresa estará disponibilizando esse recurso com o acréscimo de 100% na taxa atual nos próximos dez anos.

- Mas até lá eu já morri!

- A empresa conta com um plano funeral que estará sendo disponibilizado para o senhor, com 50% de acréscimo nas mensalidades. O senhor deseja essa opção?

Deus o defenda de solicitar essa opção! Vai passar mais duas horas ouvindo uma musiquinha irritante, falar com a atendente virtual que não atende bosta nenhuma e no fim fica pensando se não é melhor arrumar uma arma de raios desintegradores, a fim de poupar-se e aos seus de tanta enrolação. Pena que os marcianos ainda não estão disponibilizando essa opção, acredito que por não conhecerem telemarketing.

Se fosse só no plano de saúde! Tenta resolver um problema no celular ou no telefone fixo, tenta! É para desejar o tal do plano funeral.

E nós nada fazemos, brasileiro é bonzinho, calminho, sobretudo se for da tão desgraçada classe média. Rico não tem que ser educado, pobre não tem pra que ser educado, a classe média não quer descer do salto, não quer perder o que sempre a caracterizou, que é o pudor, a boa vontade e a, por que não, covardia genética.

Apesar de que a - tive essa notícia no Jornal Nacional - categoria dos "ricos" é a de renda per capita de mais de 1500 reais numa família de quatro pessoas, eu vejo riqueza assim coisíssima nenhuma. Lutamos com uma dificuldade cachorra para manter um nível de dignidade e conforto, sem ter muito direito a nada a não ser que a gente se pendure nas mais tenebrosas prestações ou coloque os filhos no colégio público sem esperança alguma de que "vençam na vida" como tinham nossos pais.

E o que tem a vacina contra a gripe com tudo isso? Tem que a peste da globalização globaliza essas coisas também, não bastasse o que já arrastamos, com selo de made in Brazil.