NESTOR TANGERINI / POR FÁBIO SIQUEIRA DO AMARAL
OS SONETOS LÍRICOS DE NESTOR TANGERINI
Fábio Siqueira do Amaral
Para falar a verdade, antes de setembro de 2007, não conhecia e nunca ouvira falar de Nestor Tangerini. Por isto penitencio-me.
Por uma dessas veredas inexplicáveis de nossas vidas, nessa época surgiu minha amizade com o conceituado professor Nelson Tangerini.
Desde então, pela própria boca do filho, a imagem, os sentimentos, o espírito do grande talento da poética, do humor, da dramaturgia nacional, da caricatura satírica e divertida, Nestor Tangerini , despertou minha apreciação e devotamento.
É tudo muito bem comprovado, com originais arquivados pela própria esposa, Sra. Dinah Marzullo Tangerini, que os repassou ao filho.
Recebi, com muito carinho, uma cópia do livro “Humoradas... – Sonetos Satíricos, cuja apresentação é laureada pelo professor de Literatura Brasileira e autor de livros didáticos, Sr. Douglas Tufano.
O livro enfeixa poemas e sonetos satíricos de grande criatividade, o fino humor inteligente. Faço minhas as palavras de A . Rocha Pinto: “Hoje humorista é qualquer gaiato ou contador de anedotas. Tangerini, porém, é do quilate de Gregório de Matos, Artur Azevedo, Bastos Tigre e Berilo Neves, isto é, humorista na velha e legítima significação do termo. É como devemos dizer agora, um humorista de classe” (da revista VIDA NOVA, p. 13, Natal de 1947).
Se isto foi escrito em 1947, dá para se imaginar o que teria escrito hoje em dia!
Dessa maneira, conheci o lado espirituoso do poeta Nestor Tangerini, o talento que, na infância, ficara cego da vista direita e, no sábado, antes de 22 de janeiro de 1940, teve o braço esquerdo arrancado num acidente de ônibus. Nada disso conseguiu atingir a alma do poeta.
Mesmo no leito do Hospital de Pronto Socorro, teve ânimo para escrever o soneto “À Dinah”, onde antevê a futura curiosidade do filho nascido ao perceber seus dois bracinhos, quando o pai tinha apenas um.
Esse poema, sem revolta, sem mágoas, sem o famoso estresse – tão normal em nossa época, por qualquer insignificante desventura, tangendo o inigualável bom humor -, fez parte desta nova coleção de sonetos, poemas, trovas e letras de música. Dona Felicidade [nova versão], este trabalho primoroso que você, leitor, tem em mãos.
Tive a honra de receber o que podemos denominar “copião” dessa preciosidade que devorei com olhos, mente e coração.
Nestor Tangerini não se supera nunca. Cada texto é uma novidade com toque de gênio. Torna-se deveras difícil dizer se esta poesia, este texto é melhor do que aquela ou do que aquele. Sente-se que o poeta escreveria, não com tinta, mas como todo o sentimento criativo da própria alma.
É lastimável que nossas faculdades, escolas e meios de comunicação citem, proclamem, nomes de tantos outros poetas, escritores, dramaturgos, humoristas, caricaturistas, compositores – tidos como geniais – e releguem o gênio, que também foi e continua sendo - Nestor Tangerini. Este livro o comprova.
Leia palavra por palavra, verso a verso, com ternura, cada um dos poemas desse livro, Dona Felicidade. Isso é imprescindível, pois, com ternura, ele foi feito.
Lendo por ler, o sabor ficará muito aquém da realidade.
Saboreie, sem pressa, consciente, com amor e estima o que foi escrito com estima e amor.
Fábio Siqueira do Amaral é escritor
e membro da ALA,
ACADEMIA LITERÁRIA ATIBAIENSE,
onde ocupa a Cadeira 12 – José de Alencar.