O homem que amansou o animal do funeral

O homem que amansava animal.

Aquele homem franzino, com suas esporas sempre vistosas sobre aquelas botas longas, era o mais ágil e valente daquela região. Seu nome era Venâncio, um negro criado lá pelas bandas do Furtado entre Itabira e Santa Maria, isto lá nas Minas tão Gerais, um lugar largado numa grota, serpenteado por um córrego de águas frias onde se podiam pescar vários peixes como: Bagres, Lambaris, Mandis e Traíras.

Assim nasceu e viveu ali este homem entre todos os tipos de animais. Já criança tendo como companheiros velhos amansadores de animais, vaqueiros e lavradores. Quando sol se fazia presente, ele já estava na roça com seu ginete a campear as vacas para a ordenha. De posse de uma caneca de ágata verde já descascada em varias partes.Dentro desta, rapadura raspada e mais uma composição em pó guardada a sete chaves, ensinada pelos vaqueiros. Era seu ritual tomar uma caneca do primeiro leite com esta mistura todas as manhas, conforme orientação dos velhos vaqueiros, acreditando que assim procedendo seria um dos mais importante e valente vaqueiro amansador, que todos os animais se reverenciariam.

Certa vez em suas prosas e causos de assombrações, ali junto ao fogão de lenha a espera de um mingau de milho que fervia numa panela preta de ferro, ele segredou. Dizendo que seus pais disseram, que quando ele veio ao mundo, foi lavado com sangue de tatu, pois assim se acreditava naquela época e região, que este ato, lhe faria uma pessoa protegida de todas as doenças e maldades do mundo. Assim era o Venâncio uma pessoa destemida, uma pessoa boa, o amansador oficial de animais. Era emocionante vê-lo em ação devido sua habilidade sobre aqueles animais, que se quedavam sob suas ordens.

Aquele animal Almofadinha, de quem falo no funeral animal no fundo quintal, foi um dos amansados por Venâncio. Lembro claramente daquele momento. Era um domingo, toda meninada da rua sobre os muros das casas para ver aquele homem e o animal, como nas grandes touradas. Ele recebeu o animal e lentamente como numa conversa silenciosa com a criatura, ele ia aos poucos colocando as montarias e vez ou outra o animal mostrava repulsa, bufava e se empinava nas patas traseiras, o que era motivo de festa e medo da criançada. Num instante de pura magia e concentração, ele chegou bem junto ás orelhas do animal, parecia um ritual de oração entre ele e a criatura. Alguns presentes diziam, que era uma reza brava, que os piões tinham para esta arte. Foi um momento que o silencio imperou total naquela rua. Num lance rápido o Venâncio se jogou sobre o cavalo e os dois encenaram a mais linda dança, varrendo todo salão digo rua com suas manobras arriscadas junto ás cercas e muros das casas. Aos poucos o animal foi cedendo,cedendo,cansando e ele orgulhoso vitorioso apeou do cavalo que estava totalmente molhado e amansado.

Tempos depois em conversa com Venâncio, ele não sabia dizer sobre a mistura usada naquele leite pelas manhãs, pois nem ele sabia. Mas o que ele falava para o animal naquele silencio profundo era uma oração que dizia assim:

- “Santo Antonio pequenino amansador de burro bravo, amansa esse burro para mim, que é mais bravo do que diabo. Que fique imóvel debaixo do meu pé esquerdo. Amém”.

Baseado na lembrança viva de minha irmã Joaquina,sobre esta oraçao.

Ao meu Tio Jose Venancio(in memorian)

Toninhobira

17/05/2010.

Toninhobira
Enviado por Toninhobira em 16/05/2010
Reeditado em 16/05/2010
Código do texto: T2261100
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.