NARIZ EMPINADO

Outro dia conversava animadamente com alguns amigos quando passou por perto um senhor bastante conhecido. Vestia-se impecavelmente, como era habitual, e tinha o nariz empinado e o olhar para o alto, numa imponência e arrogância de General de Campo Alemão. Ignorou a nossa presença e ficou por ali sozinho, embora conhecesse todas as pessoas, fato que levou um dos amigos a proferir com ênfase a seguinte frase de efeito semântico: - Parece um galo, pensa que o sol só nasce porque ele canta.

Achei tal observação interessante, e se profundamente analisada, a sematologia agrega perfeitamente o arrogante senhor. Conheço-o bem, trata-se realmente de um tipo arrogante, daqueles que humilha garçom, grita com pessoas humildes e se proclama rico; contudo, não trás consigo nada que se aproveite, é sem educação e sem cultura.

O bom emprego que o levou a ter um razoável provento foi fruto da influência política do pai, coisa possível naquela época; sequer prestou concurso. Vem de uma família de certa tradição, mas que se perdeu no tempo e na ruína. Arrogante como é, não poderia ser diferente, vive na solidão, pois ninguém o suporta.

A arrogância, nada mais é que se julgar superior, acreditar na própria excelência, o que leva a subestimar, menosprezar o outro e não desejar ouvi-lo, a não desejar aprender, a não misturar-se, mantendo-se de fora, com o queixo elevado.

Essas pessoas são preconceituosas e olham o mundo de cima pra baixo. Será que elas acreditam que são assim tão superiores? Lógico que não, e isso é que é patético. Os arrogantes são os primeiros a reconhecer sua própria mediocridade, e é por isso que precisam levantar a voz e se auto promover constantemente. Eles não toleram a porção de fragilidade que coube a todos nós, seres humanos, e não se acostumam com a idéia de que são exatamente iguais aos seus semelhantes, sejam estes garçons, porteiros da boate ou grandes empresários.

Ter a humildade em admitir o próprio erro, mesmo que isto represente situação adversa, é digno e nos aproxima das outras pessoas. Mas tais pessoas não pensam dessa forma.

Acima da capacidade intelectual e profissional, está a capacidade de reconhecer que nenhuma verdade é absoluta.

Os arrogantes colecionam fracassos, mas todos sempre são justificados e cada justificativa incabível, gera outro fracasso e o ciclo nunca é interrompido.

Eles usam a arrogância como um véu, o qual cobre as imperfeições de si mesmo.

Com as pessoas mais maduras, ou seja, com ou mais de 50 anos, a arrogância é do conhecimento adquirido pela vivência, mas também pode ser a arrogância da ignorância de quem envelhece sem lustro sustentado pela capacidade intelectual ou pela dificuldade de embrenhar-se nos atalhos práticos da vida.

A arrogância do conhecimento tem algumas variáveis; pelo menos duas variáveis. A do simples prazer de se apresentar como sabe-tudo, desconsiderando os circunvizinhos, ou da defesa intransigente da sabedoria acumulada diante de interlocutores vazios de conteúdo.

O arrogante letrado oferece sempre a possibilidade de dobrar-se à argumentação inteligente, porque se não o fizer será a negação do próprio aprendizado.

Mas o certo mesmo é que ninguém suporta pessoas arrogantes, pois são irmanados com a síndrome do pavão; tem uma bela plumagem, contudo, os pés são horripilantes.