Minimalismo

Há pessoas que morrem incompreendidas. São os originais e que empurram a sociedade pra frente. Querem exemplos? Soube que o professor de português do poeta Mario Quintana, na prova de redação, dizia aos alunos que só escrevessem, no máximo, 30 linhas, porque o resto ele não lia, ele rasgava. O que me fez lembrar, imediatamente, do meu professor de história, no ginásio, que não lia nada. Simplesmente jogava as provas para o alto, lá na casa dele, e de acordo com o local da queda das provas as notas variavam de sete a nove. Já contei isso, gente, mas poucos leram. Uma pena, perderam! Já sei, falta de tempo! Mas volto ao tema, hoje deveras importante, em razão da vida acelerada em que vivemos. Meu pai me contava, rindo muito, que um colega seu, advogado do INSS, começava seus pareceres invariavelmente assim: “Aliás...” Não dizia de que tratava o processo, quando ingressava nos autos, lá pela centésima página. Prosseguia solenemente com o seu “aliás”, como se estivesse levando avante o seu romance. Originalíssimo. Um poder de síntese incrível, o leitor que se danasse para entender...

Pois bem, estou exultante com esse minimalismo da sociedade atual. Acabei de ganhar uma apelação no Tribunal de Justiça escrevendo apenas uma folha e meia, enquanto o meu pobre adversário escreveu vinte folhas. O Desembargador aprovou a minha folha e meia. Diria quem está agora me lendo, o professor do Maria Quintana teria rasgado a meia folha, mas esse professor-precursor era, convenhamos, muito radical.

Com essa retumbante vitória, aderi de vez ao minimalismo. No meu próximo recurso, direi somente: “Apelo”. (Apélo- pronúncia aberta, para ajudar o leitor que não tem tempo a perder). Assalta-me um temor, esse meu temperamento não é fácil! Não seria prejudicial mais uma palavrinha? Crio coragem e acrescento mais uma palavra, exagero para os tempos econômicos atuais, mas não custa nada. E, com audácia, ainda salpico um ponto de exclamação, para mostrar emoção. A turma não dispensa emoção. Ficaria, então, desse modo o recurso: - Aliás, apelo! É vitória garantida, é ou não é?