Lembranças

Não quero me perder, então registro. Para algumas coisas minha memória é curta, enquanto que para outras ela nem mesmo existe. Definitivamente, não é capaz de comportar tudo que eu gostaria que fosse armazenado. Assim me refugio em subterfúgios.Faço do papel e caneta, do teclado e as infinitas possibilidades oferecidas pela tecnologia meus aliados.

Minhas lembranças estão fragmentadas em memórias artificiais que nao são, necessariamente mais confiáveis e seguras do que minha infiltrável memória hamana. Afinal, o papel pode ser rasgado ou sucumbir ao poder do fogo ou água. Quanto a tecnologia, talvez nem precise apontar a inúmeras falhas que ela pode apresentar.

O que é claro, não configura um problema. Se não são mais confiáveis que minha falível memória, com certeza respondem mais rápido a uma necessidade de supressão.E elas sempre surgem.

Afinal, o ser humano é confuso. Confuso e seletivo. Inconscientemente seletivo. Se por um lado não sou capaz de armazenar informações ou momentos ainda que deseje muito, por outro sou incapaz de deletar situações ou lembranças por mais que deseje que essas se tornem esquecimento. Assim, registrar seria talvez a maior das bobagens, pois nosso sitema já possui o seu filtro inconsciente.

Talvez tudo já esteja em seu devido lugar e eu só precise viver. Sem registro. Sem palavra escrita ou imagem presa.

Dominique Gasparin
Enviado por Dominique Gasparin em 16/05/2010
Reeditado em 18/07/2010
Código do texto: T2259981