Jurandir não quis fugir e ficou preso no Passado
Jurandir era assim. Tudo o que tinha para contar resumia-se ao que um dia fora feito. Do presente, nada tinha a dizer: nenhum projeto, nenhum desafio novo. Reportar-se ao passado lhe dava extremo prazer. Ainda que tudo estivesse tão distante, essa era a sua alegria: falar do que passou. Seus olhos brilhavam quando descrevia os momentos que vivera – na sua ótica, os tempos de outrora eram insuperavelmente melhores.
Curiosamente, seus dias de vitória não tinham o poder de impulsioná-lo para conquistas futuras, mas o prendiam à nostalgia. Estranhamente, não era a dor das derrotas, mas a alegria das vitórias passadas que gerava o sentimento de que não seria mais possível alcançar o mesmo êxito. O seu passado ofuscava o presente e roubava qualquer perspectiva de um futuro melhor. Empacou, mesmo açoitado pela mente que sabe e acusa, recusava-se teimosamente a sair do lugar e a seguir em frente.
E assim ia vivendo, prisioneiro do seu próprio passado. Sem conseguir olhar para frente, tocava a vida olhando pelo retrovisor, contemplando o que passou, suspirando de saudade de um tempo que não viveria nunca mais. Conduzido por uma emoção misturada; a alegria, de quem viveu o melhor, rivalizava com a tristeza de quem julga não ser capaz de reeditar, ou quem sabe superar, os tempos de glória.