O FALECIDO NÃO QUERIA
Desenvolvi um sistema em que imprimo a fotografia depois de alterar o contraste e reduzir sua intensidade. Feito isso, em um papel especial, trabalho em crayon sobre a imagem utilizando diferentes níveis de dureza. Assim posso recuperar mesmo fotografias levemente desfocadas ou com baixo nível de resolução. O trabalho agrada bastante porque o resultado final é uma ilustração rica em detalhes. Meu amigo Chico me pediu o retrato de várias pessoas da família entre as quais um primo falecido em um acidente de carro há algum tempo. O único original disponível era um convite para enterro impresso em cores sobre papel brilhante e com uma imagem de boa qualidade. Inicialmente precisava digitalizar a foto para fazer os ajustes eliminando o excedente. Até aí tudo bem. Quando acionei o scanner... Faltou luz. Duas horas depois volto à tarefa. Surpresa! O aparelho queimou. Tudo bem. A única Lan House do bairro estava fechada. Fui ao centro da cidade distante 7 km. Uma sorridente balconista me atendeu. Conseguiu digitalizar a imagem. Levei um CD e pedi que copiasse ali. Nada feito.
– Tente um CD seu. Pedi. Nada feito.
– Acho que o problema é com o gravador. Você tem e-mail?
– Claro! Dei-lhe meu e-mail.
Voltei para o bairro. A Lan House estava aberta. Abri o e-mail, baixei o arquivo e pedi ao Mauricio que me gravasse no CD.
– Bah! Não vai dar agora. Tenho 5 DVD´S pra gravar. Você não pode pegar amanhã, deixo com minha esposa que cuida da loja pela manhã.
Ok. No dia seguinte fui a loja que abre as 10:00 h.
– Não, o Mauricio não deixou nada comigo. Ligou para o Mauricio o celular estava desligado.
– Deve estar dormindo. Você não pode vir depois das 15 horas? Aí ele estará aqui.
Quando a loja abriu eu já estava lá esperando. Finalmente depois de meia hora. Consegui pegar o CD com a foto. No dia seguinte fiz os ajustes necessários. Agora precisava imprimir. Obviamente estava sem impressora. Pois o scanner fazia parte da multifuncional. Peguei minha última folha de papel. Gravei o resultado em PDF. Era o turno da esposa do Mauricio.
– Nada feito. A impressora diz que imprimiu, mas não aparece nada no papel. Vou ligar para o Mauricio. Falou a moça.
– Ele disse que o problema pode ser com o PDF. Você não pode fazer de novo?
Bem, a esta altura eu já estava meio irritado. Voltei e copiei no CD uma versão JPG. O gravador dela, não conseguiu ler o maldito CD. Voltei. Comprei outro CD. Finalmente, viva! Estava impresso!
Peguei o dinheiro para pagar. Ela me entregou a impressão
– Mas, a cabeça está cortada! Não pode.
– Puxa desculpe devem ter mexido na configuração da impressora. O problema é que não tenho desse papel.
– Deixa pra lá! Peguei o CD. Viajei até o centro da cidade. Lá a papelaria tinha o papel.
– Puxa, deu um problema com os cartuchos, ficou tudo borrado. O senhor não pode pegar amanhã?
– Claro. Quem esperou 24 horas, pode esperar mais 24. Fui visitar o Chico.
– Cara! Por via das dúvidas, manda rezar uma missa pra esse seu primo. Acho que ele não quer que eu faça o desenho.
Bem. Dia seguinte 14:30 h. 24 horas depois consegui finalmente o impresso. Terminei o trabalho rezando para que não acontecesse mais nada. O Chico gostou muito.
– Sabe! Depois que você esteve aqui, falei com o padre Alcino e mandei rezar uma missa.
Mas ainda não terminou. O Chico quer que eu mande imprimir em formato A3 pra ele por na parede. Isso implica em digitalizar novamente e começar tudo de novo até a impressão final. Acho que antes vou acender uma vela pra alma do Roldiney. Não! Você não entendeu errado. É Roldiney mesmo.