Pecado pueril
A casa ficava no alto do morro erguida sólida sobre a verde grama. Era uma casa simples, nem bonita nem feia, tinha até um ar de vaidade. E um quê de mistério também. Muitos diziam que era mal assombrada - o nordeste é cheio dessas coisas -, mas eu gostava dela, afinal era meu lar.
Um dia eu sai para roubar manga no terreno do vizinho enquanto minha mãe ficou fazendo o almoço. Tinha eu uns nove anos por ai. Não me julgue o leitor uma criança ja perdida, tu ja roubaste frutas das arvores quando criança também. O quintal de seu Manoel era um pouco menor que o nosso, mas com uma variedade de frutas bem maior, principalmente de manga! Ao chegar lá cuidei logo de verficar se o dono de tão precioso Éden não se encontrava por perto a fim de melhor cumprir meu pequeno ato criminal. Visto isto, debruço-me a examinar qual a melhor presa a ser atacada afim de obter um lucro maior na minha empreitada. As crianças também tem seu quê de mafiosi, leitor! Feitos esses preparativos começo a subir na tão cobiçada árvore proibida, com a diferença de que não só desta, mas de todas as outras "não comerás". Quando já estava ja no topo, isto é, na parte mais frutífera da mangueira, eis que de repente me aparece "a serpente". Nos fundos da casa estava Dona Guilhermina, com sua bela silhueta debruçada no tanque de lavar roupa. Tinha na época em torno dos seus 34 anos, era uma cabocla baixinha, entroncada, com um cabelo longo e cacheado batendo na cintura. As pernas eram torneadas, os quadris, largos, os seios, fartos. Enfim uma grande tentação ambulante aos homens do local. Eu, como toda criança brasileira nessa idade, não era tão inocente ao ponto de não admirar uma mulher bela. Nisso eu fiquei a chupar manga e admirar a respeitavel dama lavando sua roupa. De repente ela começa a suar e mostrar sinais de calor. Olha de lado e pra os pés de árvore e vê que não há ninguém e de repente - Tudo fez-se luz - começa a despir-se peça por peça. Camisa, saia...roupas intimas!!!! Imagine você o meu estado de perplexidade ao ver tal maravilha da criação. Que seios! Que pernas! Que quadris! E vi que tudo nela era bom! Achas que eu ainda estava a colher mangas? Que nada, meu interesse era vislumbrar tal preciosidade. Oh serpente, por que vieste me tentar tão cedo? Tudo era euforia, tudo era alegria aos olhos, tudo era tão fantastico! Mas assim como a historia da criação, comer o fruto proibido tinha um preço. E este veio subitamente:
-Oh Álvaro - gritou minha mãe - vêm almoçar! Tas onde?-
Sem dar-me conta de meu erro, posto o estado de extase que me encontrava e gritei alto:
-Já vou, mamãe. Tou aqui num pé de manga no quintal de seu Manoel!-
Daí foi a queda. Dona Guilhermina voltou-se para a árvore atentamente e viu-me. Nossos olhos encontraram-se. Ela sai correndo para dentro da casa gritanto:
-Manoel! Ó, Manoel! O fi de seu Zé ta no pé de manga me brechando!-
Adrenalina faz milagre! Desci do pé mais rapido que bala. Mas não foi o livramento: o marido da serpente foi lá em casa e contou tudo pro papai. E o final da história termina na mais bela surra que levei em toda minha vida. Mas acho que ainda assim valeu a pena.