Os "São Jorges"
Os “São Jorges”
Sabemos muito bem que os santos são pessoas que se sobressaíram nos quesitos fraternidade, caridade e amor ao próximo. Muitos deles adotaram e levaram esta conduta até as últimas conseqüências.
A maioria deles, até então pessoas normais, pacatas e que até levavam vidas desregradas, passaram a dedicar-se totalmente em prol das causas sociais. Esvaziaram-se de suas iniqüidades entregando-se ao próximo, os acolhendo como irmãos. Indignaram-se com as injustiças e as desigualdades sociais, e propunham novo olhar sobre a vida e a ética humana.
Quantos, ao se revelarem contra as atrocidades de outrora, como a opressão imposta à sociedade marginalizada por uma elite dominante e perseguições contra as minorias; foram torturados, martirizados e despojados de sua dignidade humana, mas não se abateram diante das adversidades a preservar as suas míseras vidas.
Não se dobraram ao martírio em troca do bem próprio porque almejavam um objetivo mais sublime - a caridade e a prática do amor incondicional.
Estava observando, outro dia, um quadro com a figura de São Jorge. Segundo relatos, foi um grande soldado da Guarda Pretoriana - a elite do exército do Império Romano.
Mas no tempo do Imperador Diocleciano, havia muita perseguição aos Cristãos e este referido guerreiro conseguiu proteger inúmeros cristãos e outros perseguidos, a fim de que não fossem destroçados pelos gladiadores; ou devorados pelas feras nas arenas espalhadas pelo extenso império ou simplesmente passados a fio de espada pelos impiedosos soldados.
Dado aos seus grandes feitos e bravura, o referido santo é retratado, vestido com uma linda armadura, montado em um imponente cavalo e protegendo a donzela indefesa das garras de uma gigante serpente.
O tempo muda e como mudam as coisas!
Nada que o nosso inocente e santo personagem tenha contribuído de forma negativa à nossa atualidade, mas por analogia, concentremos em sua cavalgadura.
Pois bem, hoje vemos por aí, bem próximos da gente muitos “São Jorges”.
Não que estes novos “São Jorges” estejam por aí a salvar donzelas indefesas ou pessoas perseguidas pela opressão da atualidade – fato que permaneceu e adquiriu novas faces e performance.
Muito pelo contrário, estão confortavelmente montados em seus “cavalos” se deliciando como morcegos do sangue alheio.
Nossa Língua Portuguesa, àquela que é a “última flor do Lácio inculta e bela” acaba de adquirir novo verbo que acabei de inventar: O verbo “Sanjorgiar”: eu “sanjorgio”, tu “sanjorgias”, ele “sanjorgia” e assim segue a conjugação, crescendo a lista verbal.
São fáceis de serem reconhecidos esses “São Jorges”. Eles ficam em busca de uma cavalgadura confortável para o momento. São muitos os motivos e utilizam de inúmeros pretextos para querer fazê-lo: “eu não sabia que era assim”, “não tive tempo”, “andei muito ocupado”, “o filho estava doente”... e vão cavalgando em dorso alheio
Você pode não acreditar, mas vida de Cavalo de São Jorge não é fácil. E se te descobrem; lá se vai o teu sossego. Resta-lhe preparar bem o seu dorso, pois o cavaleiro pode ser bastante ousado.
“São Jorges” são como formigas e bajuladores, existem em todos os lugares: No trabalho, na família, na igreja, na escola. Ah! Na escola, confesso estar traumatizado. Copiam tudo. São verdadeiras máquinas de copiar. Copiam os mesmos erros, inclusive, pela desatenção, até o nome do autor. Plágio?!Talvez esta palavra tenha perdido o seu significado.
Outro dia, me foi pedido uma oração de São Geraldo, aproveitei e providenciei também a oração de São Jorge.
Quando nos cansamos de sermos “sanjorgiados” e reclamamos, somos chamados de egoístas, desumanos, e dizem uma série de impropérios, deixam até de serem nossos “amigos” e nos caluniam.
Estes “São Jorges”, têm a personalidade de gatos. Quando da gente se aproximam, chegam com elogios, galanteios, com um falar manso e cheio de diminutivos. E enquanto você pensava que o indivíduo estava sumido, surge inesperadamente para dar como serpente, o bote fatal. Depois de alcançado o objetivo, desaparecem como que por encanto, sem ao menos um obrigado.
Assim como os vampiros, estes também te sugam. Sugam suas energias, suas idéias, paz de espírito e sua saúde.
Na crença popular, há vários itens que mantêm os vampiros longe da gente como o alho, água benta, estacas de madeira, balas de prata... Para estes “São Jorges” não sei, mas eu quero urgentemente mesmo, é uma oração para o cavalo.
Luciano Coelho 04/11/09