Cumplicidade.
Ela, uma vida vazia. Ele, um caminho para lugar nenhum.
Em um dia, uma troca de palavras. Em algumas semanas, as declarações. Em meses, a aprendizagem dobrando de tamanho a cada discussão, o amor se multiplicando por um valor incontável a cada redenção. Em anos, a vontade eterna, calada de tão repressiva, de estarem juntos de verdade. A promessa que ia e voltava, se escondendo nas sombras dos desentendimentos, mas nunca se desviando da trilha que os dois não conseguiam – e tampouco desejavam – se desviar por completo. Já estavam suficientemente contaminados um do outro para sequer ousarem querer uma vida diferente, e o amor era tão grande que ficava preso à garganta como um soluço, ansiando por demonstrar com reais gestos a sua total complexidade que tanto os sufocava.
"Eu te amo..." - disse ela, durante a primeira ligação telefônica – aquele primeiro contato que pareceu aproximá-los mais.
"Eu também te amo..." - respondeu timidamente, com um risinho repleto de meiguice no outro lado da linha.
"Muitão..."
"Muitão."
"Para sempre, né?" - perguntou a garota, quase que com um sussurro derivado da timidez e do peso da saudade. Saudade daquela face maravilhosa que ela nunca tivera chance de tocar...
"E muito, muito mais". - disse-lhe o garoto com sua voz jovial, mas dotada de uma seriedade e sonoridade que eram capazes de deixar a menina hipnotizada.
Houve a breve despedida acompanhada de sorrisos. Houve, nos tempos seguintes, uma época abstrata e turbulenta, semelhante a uma seqüência de obras caoticamente impressionistas: não era possível lembrar de cada detalhe ou de uma imagem exata, caso fossem olhados de perto, lembrados conforme os mínimos detalhes; porém, olhando de longe, só era possível ver uma imagem com um único cenário cheio de significados. Os seus temores e pesadelos, tempos que arduamente foram deixados de lado pela insistente e insegura consciência, foram estampados nas telas, e só um período de tempo teimoso e confuso – mas paciente e desejoso por alguma reparação – foi capaz de encontrar algum nexo e aplicar a verdade naquelas cabecinhas ansiosas e magoadas. Céus, que tempos tristes... Tristes, fantasmagóricos; mas também tempos passados.
"Às vezes acho que é problema da rotina, mas é algo mais do que isso. É uma falta de rumo, uma falta de vontade para continuar vivendo essa vida parada".
Ele não sabia o que fazer – achava que iria se afogar nos dramas do cotidiano. Ela, por sua vez, tinha todo um caminho pela frente, algo grandioso sendo construído... Ora, de que vale a grandiosidade sem um bom motivo para aplicá-la? Elogios vêm e vão. Fazem-se felizes os pais, os familiares, os amigos, mas quando que a felicidade é diretamente focada em algo que seja prazeroso à própria existência?
A falta de rumo não é um motivo para o fracasso; a grandiosidade não é um motivo para a felicidade. No fim das contas, eles dois acabaram no mesmo caminho sem rumo, até que descobriram um no outro o significado da palavra "vida". Pois a real felicidade não surge com grandes ou pequenos e significativos gestos; é necessário algo mais; uma coisa tão simples, mas ao mesmo tempo tão grande, que é capaz de mudar dois destinos...
"Eu encontrei em você o meu motivo para viver..." (...).