academia

Há tempo, em que apenas limitáva-me em parar diante de “tábulas de leis” prescritas e tremendamente definidas, onde, não apenas eu, mas todos os tolos que imaginavam entre si, podia deter ou absolver os saberes que inconscientes já estão apreendidos, ou como que germes criadores, tais quais fazem brotar vida e sombra, sentindo-se melhores que todos, sem na verdade, nada saberem, olhavam-me com tamanha arrogância e despreso. Decepcionado, apenas incubei-me, sumi, apaguei todas as idéias, fiquei quase que inerte ou aniquilado, preso dentro de mim mesmo. E enfim, não sei como, desperta-me algo que, com nexo ou desconexo, faz-me levantar e descobrir que ignorantes como eu, não apenas se destacam do “todo”, mas também, sentem-se superiores. E eu? Perguntei-me. Hás de te surpreender! De saber que nada posso afirmar ou discordar. Nem sequer de imaginar se é ou não correto ou incorreto o que se passa.

Mas, nesta “Babel” social em que vivo, posso dizer que compreendo alguma coisa útil ou unútil? Quando eu, eu...que pensava se um “normal” seguindo os padrões determinados pela sociedade moderna, decepciono-me e não menos aflinjo-me, e porque não dizer como o mais iluminado mestre das letras da modernidade, angustio-me, a ponto de não saber se o que penso ou projeto é ou não verdade.

E nestas circunstâncias, vejo que tudo ao meu redor, flui mais ou menos sem sentido. Tudo está para mim como a onda da praia está para o rio, sem nenhum sentido que possa me alentar, me definir, me auxiliar nas coisas mais banais que considero, ou que são consideradas pelo “mundo”. Na rua ou nos lugares onde passo, tento disfarçar o que sinto, muitas vezes, forçando saber ou entender algo ou tudo o que vejo, e na verdade, nada me surpreende. Nada me leva sequer ao disfarce para com os demais.

Contudo, é verdade, o calor do outono me incomoda, o barulho dos carros cortando as ruas turbulentas me incomodam e, por incrível que pareça, até mesmo o silêncio me incomoda. Ele me faz pensar, me traz coisas que o tempo já havia com sua gentileza cicatrizado. É como dizem muitos no senso comum. Realmente pensar incomoda. E porque não dizer ou lembrar inconvenientemente agora, o velho ditado só por motivo de ilustração, “quem pensa, não casa”. Mas na verdade, estes pensamentos faz-me reviver realidade ou situações que mesmo sem querer, sou obrigado a suportar porque deles não posso sequer fugir.

Sou, como já me disseram, um “fujão”, isso realmente não posso sequer negar. Não posso ao menos tirar a razão de quem o falou. Fujo, fujo sim! Fujo de tudo e de todos. Tudo isso me apavora, me assusta, me compromete até os olhos quando, na verdade, não quero nem imaginar que mereço ser responsável. Quando vejo que estou numa situação de insônia incontrolável em meus pensamentos. Quando a verdade passa diante de mim como o vento em plena tempestade. Como o despertar do vôo de uma águia assustada. Nada me atribui uma pequena fagulha sequer de segurança, de resistencia para me sentir eu mesmo seguro. Por isso fujo, até de mim mesmo. Das minha tendências subversivas, das minhas idéias, dos meus projetos, de minhas palavras, de minha voz. Já não falo. Nem mesmo sozinho. Tenho medo de minha própria voz. Dela me hororiso. Me espanto. Me assusto. Até mesmo me envergonho só em pensar em sentir em meus ouvidos o timbre sonoro dela. Me aterroriso só em cogitar que o som da voz vai expressar o que em meus pensamentos já se condensaram. Melhor seria, se na imensidão do universo, se desvanecesse toda possibilidade de expressão oral que por acaso tendesse a sair pelas minhas cordas vocais.

Nestas circunstâncias tais, em que me encontro, uma pergunta seria pertinente fazer, e porque não dizer, decisiva. E não só uma! Qual o verdadeiro sentido da vida? Em que realmente podemos nos apoiar para continuar a viver? Onde estão nossas certezas de ontem? E as de hoje, o que acontecera? Estas e outras questões são tais que, uma definição seria, no mínimo, ingênua, ou se preferir, inviável.

Quando, porém, terei a oportunidade de me surpreender diante do súbto, do lúdico que invade meus sentimentos e, não sei por qual motivo, não se apresenta? Porque fica oculto dentro de si mesmo sem ter sequer um artista feito nesta arte que possa desvendá-la ou despertá-la? Quando por intuição, apenas um generoso e sábio artista correrá o risco de lapidar esta rocha bruta e toda pontiaguda e sem forma? Na verdade, não saberei sequer, responder ou saber se tem resposta. Mas, no entanto, fico apenas ansioso e na expectativa de um dia alguma alma generosa ou louca, apareça e faça acontecer o que jamais aconteceu em todos os tempos ou em algum lugar.

Mas temos que convir, que com os pensamentos não podemos nos torturar. Uma hora eles nos aflingem, outra, nos mostram como e o que devemos fazer diante das circunstâncias intermináveis que nos encontramos. É justamente ai que algo novo, surpreendente, belo... se me apresenta. Num momento fico parado diante de mim mesmo e das imagens que se me apresentam. Umas belas, outras com seu grau de fealdade. Tudo isso segundo os parâmetros estéticos estabelecidos pela própria sociedade, onde, na verdade, não poderia concordar ou discordar, tendo em vista os padrões estéticos que cada um assume em sua subjetividade.

Joseiton Nunes
Enviado por Joseiton Nunes em 14/05/2010
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