Cartão de Visita

– Alô! tudo bem? Eu gostaria de falar com o gerente.

– Um momento.

- Pim, pim pim pim pim pim pim pim.....

– O gerente não pode atender agora.

– Certo. Posso deixar um recado?

– Fala.

– Por favor, peça para ele retornar a ligação, quando puder?.

– ÓK!

– Obrigado.

Tu, tu, tu, tu.

Que me perdoem as telefonistas bem-educadas. Será que é tão difícil para algumas pessoas serem simpáticas ao telefone? Será que os problemas pessoais têm de acompanhá-las até no emprego? Se o salário de telefonista não é bom, por que algumas pessoas não procuram outro emprego? Não, não é bem o texto acima que me incomoda quando ligo para algum lugar, mas o tom de voz que é utilizado.

“– Alô”. Ora, funcionárias que atendem ao telefone dizendo um alô murcho fazem uma antipropaganda da loja (ou repartição, ou o escambau). Talvez elas não saibam, mas são os clientes que pagam seu salário. Quando sou mal atendido por telefone, parece-me que a empresa não precisa de mim e minha vingança é bem simples: não compro lá, e se compro, passo a deixar de comprar. Seria ótimo que os proprietários de certos estabelecimentos observassem mais de perto o comportamento de seus funcionários, puxando as orelhas e ensinando a atender bem os clientes, mesmo que por telefone. Custa dizer um sonoro bom dia, custa?

A segunda frase, “Um momento” é uma mostra da evolução verbal da interlocutora. Porém, esse “um momento.” com um ponto final e não um ponto de exclamação é quase uma ordem; é como se a moça, em um tom superior, estivesse falando com um subalterno qualquer e mandando-o esperar. “Vou verificar se ele está e pode lhe atender. Aguarde um momento, por favor!”, soaria muito melhor.

Prosseguindo, o diálogo há a frase “O gerente não pode atender agora.”. O que veio acompanhado de um ponto final poderia ter ganho a doce companhia de um ponto de interrogação “O senhor gostaria de deixar recado?”. Mas não, a moçoila faz questão de gerar um novo pedido, como se eu precisasse tanto assim de seus favores. E quando pedi para deixar recado, lá veio ela com uma nova ordem: “Fala”. Aí dá uma vontade de perguntar: “Mãe, tu tá trabalhando de telefonista?”. Sim, porque só minha mãe (ainda) manda eu falar, e muito lá de vez em quando.

Não vou comentar o “ok” americanizado ao invés do “pois não” e a falta de educação da moça que bateu o telefone na minha cara antes de eu desligar e mesmo me despedir. Eu que liguei, eu que me despeço e desligo. Esta é a ordem das coisas ao telefone e de tantas outras coisas nessa vida. Diferença cultural e limitação são coisas bem distintas. Porém, acredito que o respeito deve andar de braços dados com as duas.

SerhumanoSER
Enviado por SerhumanoSER em 14/05/2010
Código do texto: T2256929