Aventuras de uma carioca (re)descobrindo o Rio.

Hoje aventurei-me em tarde turística pelo Centro do Rio com minhas amigas de Pelotas, Viviane e Lizie, que estão na cidade a passeio.

Você há de me perguntar: “Mas você não mora no Rio?”.

Sim, moro. Mas nunca havia passeado pela Avenida Rio Branco com olhos de turista. Nunca tinha observado, sem preocupação com hora ou assalto, a arquitetura esmerada dos prédios antigos, as ruas arborizadas da Cinelândia, os detalhes do piso em cerâmica feita à mão no hall do Museu de Belas Artes, o dourado da fachada do Teatro Municipal.

Então, nos vestimos de roupas confortáveis e olhares encantados e saímos as três pela deliciosa orla do Rio de Janeiro, assistindo o mar beijar o horizonte até chegarmos ao Centro, para uma expedição em busca de arte, beleza e história.

Bem, conto para vocês, houve, sim, arte e beleza. Mas o que descobri, nesta tarde, na verdade, é que o Rio de Janeiro preserva mais que beleza naqueles prédios. Preserva também gentileza.

Surpreendente ver os guardas uniformizados, na Assembléia Legislativa, abrirem sorrisos hospitaleiros e ciceronear três moças perguntadeiras por corredores cheios de história, aguardando, pacientemente, que fotografássemos os imensos salões onde impressionantes moveis antigos eram banhados pela luz do dia que invadia através dos enormes vitrais do teto.

Inesperada a atenção dos guardas do Museu de Belas Artes que não apenas nos indicaram as galerias cheias de belas esculturas e quadros, mas ainda se ofereceram para fotografar o grupo e esclareceram, pacientemente onde era permitido ou não fotografar as obras.

Emocionante o olhar preocupado e solicito do rapaz que nos advertiu sobre o uso da máquina fotográfica nas ruas movimentadas do Centro e também o pedido das vendedoras de bala para que tirássemos fotos com elas.

Encantador ver a atenção delicada dos funcionários da Biblioteca Nacional enquanto nos cediam sorrisos e histórias e nos guiavam entre lembranças e novidades, por entre salas já conhecidas minhas, em incontáveis tardes na época da faculdade, até setores abertos apenas à visitação guiada, como as galerias com armários de aço e chão de vidro e as salas de restauração de livros raros.

A tarde terminou com olhos cansados e sorrisos satisfeitos entre os doces da Confeitaria Colombo, onde o sabor é apenas parte do prazer. Deixamos a decoração e o som do piano nos transportar ao início do século passado e, entre doces e biscoitos, nos deixamos ficar ali, conversando e descansando das horas percorridas por corredores ancestrais, enquanto atenciosos garçons mantinham nossas xícaras de café sempre cheias.

Foi uma tarde mais que divertida e interessante. Nesta tarde, uma carioca descobriu mais que o Rio. Redescobriu os cariocas.

Maio de 2010