Escrever para não morrer
Já tentei falar sobre as inúmeras motivações que temos para escrever.
Cheguei à conclusão, “no frigir dos ovos”, que o simples prazer prevalecia para que eu escrevesse. Interessante, não sei se já apontei essa fato, mas também é verdade que certos escritores sofrem ao escrever. Neste caso, se encontrava a nossa grande escritora, da Academia Brasileira de Letras, Raquel de Queiroz, autora do “Quinze”, o primeiro e mais famoso romance, com tradução francesa. Vi e ouvi a própria falando do seu sofrimento, na TV. Uns escrevem para lembrar; outros ,por incrível que pareça, para esquecer. Existem aqueles que escrevem para obter autoconhecimento, não sei se conseguem, tenho minhas dúvidas. E minha dúvida aumentou muito mais, quando um biólogo inglês, considerado o maior do mundo na biologia, disse enfaticamente: “A biologia ainda desconhece o homem, por isso ainda é cedo para dar um parecer sobre o ser humano! Meu Deus! Que coisa, heim? Deixo de lado os psicanalistas, que se deliciam em ver os motivos mais tenebrosos para os escritores. Decididamente, esta turma da psicanálise não consegue ver o lado saudável do homem. Ontem, para minha grata surpresa, pena que só assisti o último minuto de um programa da TV-Sky, apreciei Ligia Lessa Bastos, dizendo textualmente: “me leia, poeta, não me deixe morrer. Escrevemos para não morrer, pois sabemos que a vida é curta, efêmera”. Milton Hatoum, o árabe-amazonense, meu conterrâneo pelo lado amazonense, diz que escreve para salvar suas histórias da corrosão do tempo, o que já lembrei na minha crônica anterior sobre o mesmo tema. Há, em muitas motivações, um desejo oculto de salvação, pelo menos para os mais religiosos. Mas na verdade, queremos, com a escrita, justificar e manter nossa presença no mundo. Foi para mim uma revelação a frase de Ligia Lessa Bastos. É isso, agora sei! Na verdade, já sabia, falo com sinceridade, nada de inconsciente, era bem consciente, tinha era vergonha de revelar. Estou escrevendo para não ser esquecido e, como disse a Ligia, para não morrer! Quero prosseguir um pouco mais além do transitório. É isso, não tenho mais dúvida. E quero escrever com “estilete”, deixando a minha marca, meu estilo, para aqueles que me são caros, para os que me conhecem. E assim viverei um pouco mais, deixando o meu retrato psicológico para os meus descendentes, minhas duas filhas. O escrever, quando não é patológico, pois tudo na vida pode derivar para a anormalidade, ainda nos traz benéficos efeitos colaterais, pois também escrevemos para deixar uma lembrança para alguém; para consolar um amigo ou amiga; para desabafar, para dar ânimo a uma irmã ou uma filha; para dizer que estamos apaixonados; para ficarmos mais próximos daqueles que são importantes para nós; para instruir, para parabenizar, para alegrar e até para pedir. Dizem os meus amigos que quanto mais se escreve, mais se quer escrever. A experiência de escrever é nova para mim, o que é velho é o hábito da leitura, pois comecei aos quatro anos e nunca mais consegui parar de ler. Evidentemente, só escreve quem lê. É o maior dos prazeres!