Lá Vem o Ônibus
Ela acabara de virar a esquina e ao longe avistou o seu ônibus vindo em direção à parada. Não restava alternativa a não ser correr e chegar a tempo de embarcar. Afoita, atravessou a rua arriscando-se por entre os automóveis, a fim de não perdê-lo. Correu como nunca, mas, a uns cinqüenta metros da meta, viu o motorista arrancar, e, mesmo levantando as mãos, sinalizando como quem pede misericórdia, viu o ônibus seguir, guiado pelo motorista que exibia um sorriso sarcástico nos lábios. Decepcionada por não ver o seu esforço recompensado, conformou-se em ter que esperar no mínimo mais vinte minutos pelo próximo coletivo.
Esperar mais vinte minutos não é nada. Não fazer hoje e deixar para amanhã, também pode significar muito pouco. Até mesmo ver uma semana passar até que venha a próxima, ou quem sabe aguardar o mês seguinte. Mas existem ciclos que são bem maiores, são os anos que passam até que uma nova oportunidade surja. Alguns ciclos, quando muito, se completarão duas ou quem sabe três vezes durante uma vida toda. E outros aparecerão uma única vez, são aqueles que quando perdemos, perdemos para sempre. Esses são muito mais cruéis do que motoristas sarcásticos que deixam passageiros de castigo por mais vinte minutos nas paradas. São oportunidades que não voltam, que passam diante de nós, que flertam conosco, mas não casamos com elas. É o tempo favorável que chega e vai, sem que o reconheçamos.